Os caminhos na vida

“André e Rodrigo, cansados de morar na cidade grande, decidiram viajar para procurar um lugar melhor. Cada um comprou um cavalo e partiram juntos para procurar o lugar ideal para viver. Após viajarem muitas horas, depararam-se com uma bifurcação. Os dois ficaram confusos, não sabiam que caminho escolher. Um dos caminhos parecia agradável, tranquilo, sem muitas curvas nem dificuldades. O outro caminho já parecia um pouco mais tortuoso, com muitas curvas e trechos difíceis.

Os dois já tinham escolhido o caminho mais simples e iam recomeçar a viagem quando André viu uma pequena tabuleta no chão. Ao começar a ler, percebeu que tinha sido escrita pelo engenheiro que havia projetado as duas estradas. Na tabuleta estava escrito uma espécie de conselho: “Cuidado com as aparências. Nem sempre a estrada mais fácil é aquela que leva aos melhores destinos”.

Rodrigo deu risada. Se achava inteligente demais para acreditar naquela placa tola. Ele achou, com arrogância, que o engenheiro não tinha nada para acrescentar na sua decisão. Imediatamente seguiu pela estrada fácil e direta.

Já André ficou em dúvida. Se o próprio engenheiro havia deixado aquela mensagem, o melhor seria seguir pela estrada mais difícil e longa, pois certamente chegaria a um lugar melhor. Mas por outro lado, a outra estrada parecia muito atrativa. A escolha era realmente difícil e ele sabia que a decisão influenciaria toda sua vida. Depois de muito tempo de reflexão, ele decidiu escutar o conselho do engenheiro que havia projetado a estrada. Afinal, quem poderia saber mais do que o próprio projetista daquelas duas estradas? Viajou segurando firme seu cavalo, contornando as difíceis curvas e vencendo os obstáculos no caminho. Cada vez mais o caminho ia ficando agradável e fácil. Após algumas horas de viagem ele chegou a um belíssimo jardim de rosas e foi saudado por pessoas muito amáveis e hospitaleiras.

Enquanto isso, Rodrigo seguia feliz pelo outro caminho. Mas aos poucos a estrada, que era agradável, começou a se tornar esburacada e perigosa. Após algumas horas de viagem, cada vez mais difícil e desagradável, ele chegou ao destino final: um espinheiro, por onde somente conseguiu passar machucando todo o seu corpo. E finalmente foi recebido por pessoas que o enganaram e roubaram todos os seus pertences”

Isto é o que o judaísmo nos ensina: nem sempre os caminhos mais curtos são os que nos levam aos melhores lugares. Ao contrário, sem esforço e sem vencer os desafios não crescemos e não chegamos a lugar nenhum na vida.
 


Pesquisadores descobriram que os esquimós conseguem enxergar mais tons de branco do que outras pessoas. Em uma parede branca, onde nós conseguimos distinguir dois ou três tons de branco, eles conseguem distinguir mais de 20. Por que? Como eles vivem em regiões polares, constantemente com neve e gelo, imersos no branco, eles desenvolvem a sensibilidade e conseguem distinguir pequenas diferenças de tons brancos que nós não conseguimos.

O mesmo conceito podemos enxergar no Lashon Hakodesh (a língua sagrada, com a qual D'us criou o mundo e escreveu a Torá). Em todas as línguas do mundo, existem no máximo três ou quatro formas diferentes de descrever a alegria. Já no Lashon Hakodesh existem 10 expressões diferentes para a alegria. Por que? Pois fomos criados para ser felizes. O propósito da vida é viver imersos em tanta felicidade até poder distinguir entre os diferentes tipos de alegria.

Onde nossos sábios mencionam estas 10 expressões de alegria? Durante o casamento, na última das 7 Brachót (bênçãos) que os noivos recebem no dia do casamento, sob a “Chupá”. Por que justamente em uma das Brachót do casamento? Pois somente quando uma pessoa encontra sua metade e se conecta espiritualmente com ela através do casamento é que se torna possível chegar aos 10 níveis de alegria.

Porém, há algo difícil de entender. Se deveríamos viver imersos em alegria, por que vemos no mundo tanta tristeza, tanta depressão, tanto sofrimento? E mais ainda, se a forma de chegar nos 10 níveis de alegria é somente através do casamento, por que vemos tantos casais brigando, se divorciando, destruindo suas vidas e as vidas de seus filhos? Pesquisas mostram que de cada 10 casais que se unem através do casamento, 6 estarão divorciados em até 10 anos. Onde está esta alegria que deveria preencher nossas vidas?

Quando uma pessoa compra um equipamento muito delicado, em geral não sabe manuseá-lo com segurança. Justamente para que o usuário possa ter o máximo benefício do produto é que o fabricante, que conhece cada pequeno detalhe do aparelho, desenvolve um manual de instruções. Imagine uma pessoa que, após ler atentamente as instruções, decide que sabe mais do que o próprio fabricante e utiliza o equipamento justamente ao contrário da forma como está escrito no manual. Não é óbvio que esta pessoa é um tolo que em pouco tempo estragará o equipamento?

O mesmo ocorre com as nossas vidas. Fomos criados para ser felizes. Mas somos como equipamentos frágeis e difíceis de serem manuseados. Por isso D'us nos deu um “manual de instruções” chamado Torá. Neste manual, D'us nos ensina, em todas as áreas da vida, como nos comportar para que as coisas funcionem com perfeição. Se desprezarmos este “manual” e fizermos o contrário do que está escrito nele, não é certeza de que as consequências serão negativas?

Este ensinamento está contido no primeiro versículo da Parashá desta semana, Reê: “Veja, eu coloco diante de vocês a Brachá (Benção) e a Klalá (Maldição). A Brachá, quando vocês escutem as Mitzvót de Hashem, teu D'us, que eu comando a vocês hoje. E a Klalá, se vocês não escutarem as Mitzvót de Hashem, teu D'us, e se desviarem dos caminhos que eu comando a vocês hoje” (Devarim 11:26-28). O ensinamento da Torá é claro e direto: ninguém nos conhece mais do que o nosso próprio Criador. As Mitzvót da Torá são para o nosso próprio bem. Portanto, temos diante de nós dois caminhos na vida. Um caminho é mais difícil e mais trabalhoso, é o caminho de cumprir as Mitzvót que D'us nos entregou, e a conseqüência é de termos Brachá em tudo o que fazemos na vida. O outro caminho é um caminho mais fácil e “gostoso”, é viver de acordo com as nossas vontades e desejos, mas a consequência é uma vida sem Brachá.

Uma das áreas de nossas vidas onde isto mais se ressalta é no casamento. A Torá nos ensinou a escolhermos nossa metade de maneira objetiva. Por isso existe o “Shiduch”, os encontros entre um rapaz e uma moça para que se conheçam. Nestes encontros não ocorre nenhum tipo de contato físico, pois o contato físico nos desvia da objetividade. A escolha deve ser baseada em uma decisão racional, aliada com os sentimentos que o rapaz e a moça desenvolvem um pelo outro durante os encontros. Se os encontros são interessantes, eles continuam por algumas semanas ou meses, até que ambos cheguem à certeza de que querem casar, de que suas metas de vida são compatíveis. Se em algum momento os encontros deixam de ser interessantes, eles são interrompidos e cada um começa a procurar outra pessoa. Apesar de parecer uma “loucura” casar antes de ter qualquer contato físico, os números mostram que menos de 5% dos casais formados através de “Shiduch” se divorciam. O casal também tem claridade de que se casam não para receber, mas sim para fazer Chessed (bondades) com o outro. Como o homem e a mulher são dois “mundos” completamente diferentes, tanto o noivo quanto a noiva passam por um curso para aprender a cuidar um do outro e a se entenderem. Durante toda a vida os casais se aconselham com pessoas mais sábias e experientes sobre como resolver problemas que naturalmente surgem durante o casamento.

Já no mundo sem os ensinamentos da Torá o método escolhido é o “namoro”. O casal se encosta, “experimenta” todos os níveis de contato físico, muitas vezes até mesmo moram juntos. Este processo pode durar anos. Parece um sistema lógico, toda a convivência é testada, não há o que dar errado. Mas os números mostram que mais de 60% dos casais se divorciam, e muitos após poucos anos ou meses de casamento. Por que? Pois o contato físico nos tira a objetividade da escolha. O casamento acaba sendo baseado no contato físico e não em uma construção espiritual. A “despedida de solteiro” nos mostra que o casamento é visto como o fim da boa fase da vida, onde podíamos curtir sem preocupações. O fotógrafo nos diz, no dia do casamento, “sorriam, este é o dia mais feliz de suas vidas”. Daí para frente a tendência é realmente tudo piorar. Sem preparação, sem esforço, sem construção, o casamento é um barco furado que cedo ou tarde pode afundar. O divórcio é cada vez mais banalizado, casais que poderiam se aconselhar e resolver pequenos problemas preferem “partir para outra”, sem entender o grande desastre que significa desmanchar a santidade de um casamento. O casal sofre, os pais sofrem, os filhos sofrem.

O casamento é apenas um exemplo de quanto a Torá pode trazer Brachá para nossas vidas. As sociedades de pessoas que vivem de acordo com os ensinamentos da Torá são muito mais harmoniosas. Neste meio, a violência e a enganação praticamente não existem. São pessoas que também cometem erros, mas que estão comprometidas a constantemente tentar melhorar. A Parashá ressalta: “Veja”, pois as consequências são visíveis. As diferenças entre os dois tipos de vida são gritantes. A Brachá não é uma promessa para o futuro, não é uma profecia para o Mundo Vindouro. É uma promessa para o nosso dia-a-dia.

Fomos criados para ser felizes. Temos em nossas mãos um “Manual de Instruções” de como ser feliz. É uma pena tentarmos ser mais “espertos” do que o próprio Criador do mundo. Pois em geral, os caminhos mais curtos e “fáceis” nos levam a um jardim de espinhos, não a um jardim de rosas.
 

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