“O sistema escolar de uma grande cidade americana decidiu criar um programa para ajudar crianças hospitalizadas a não perder o ano escolar. Professoras foram contratadas e visitavam as crianças doentes para ensinar o mesmo material que seus colegas de classe estavam estudando. Mary foi uma das professoras contratadas pelo programa. Certo dia ela recebeu um telefonema avisando sobre uma nova criança que entraria no programa e que precisava aprender substantivos e advérbios. Mary foi ao hospital para começar a primeira aula com a criança doente.
Mas o que ninguém havia avisado para Mary é que a criança era um garoto que havia sofrido queimaduras graves e sentia muitas dores. Foi um grande choque para Mary, ela se sentiu muito mal de ver o garoto naquele estado. Gaguejando, ela explicou que havia sido mandada pela escola para ajudá-lo a aprender os substantivos e advérbios. Abriu o livro, procurando não olhar diretamente para o garoto, passou a lição do dia, levantou-se e saiu.
No dia seguinte, Mary não teve vontade de voltar ao hospital, pois achou que não havia acrescentado nada àquele pobre menino. Mas lembrou-se da importância do projeto e, juntando todas as suas forças, foi dar a aula. Quando chegou, antes mesmo de entrar no quarto do garoto, a enfermeira-chefe correu em sua direção e perguntou: “O que você fez com este garoto?”. Mary, achando que havia feito algo errado, começou a se desculpar. A enfermeira-chefe interrompeu-a e disse:
– Não, você não está entendendo. A saúde deste garoto estava cada vez pior, principalmente porque ele estava extremamente triste e sem vontade de viver. Nenhum tratamento estava adiantando e as infecções estavam cada vez mais difíceis de serem controladas, mesmo com os medicamentos mais fortes. Mas desde que você saiu daqui ontem, o garoto começou a reagir aos tratamentos e sua atitude mudou. Ele está novamente lutando pela vida. Parece que, depois de sua visita, ele decidiu viver. O que você fez?
Mary não conseguia entender. Afinal, o que ela tinha feito pela criança? Havia apenas dado uma aula de substantivos e advérbios. Duas semanas depois aquele garoto já estava milagrosamente fora de perigo. Sentindo-se muito melhor, ele explicou aos médicos sua mudança de atitude:
– Eu sentia tantas dores que havia perdido a vontade de viver. Eu acreditava que não tinha mais chances de me recuperar e que os médicos estavam apenas me enganando e escondendo a verdade. Mas quando aquela professora entrou e avisou que estava ali para estudar comigo substantivos e advérbios, tudo mudou, pois eu percebi que iria viver. Eu pensei: “Por que mandariam uma professora para estudar substantivos e advérbios com um garoto que está morrendo?”. Foi aí que eu decidi lutar pela minha vida”.
Desta história vemos a importância da Mitzvá de “Bikur Cholim” (visitar os doentes), uma Mitzvá com a qual podemos literalmente dar vida aos outros.
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Nesta semana lemos a Parashá Vayerá, que começa com as seguintes palavras: “E D'us apareceu para ele (Avraham) nas planícies de Mamré, e ele estava sentado na porta da tenda, no calor do dia” (Bereshit 18:1). Qual o motivo pelo qual D'us apareceu para Avraham neste momento? Explica o Talmud (Sotá 14a) que Avraham estava se recuperando do Brit Milá (circuncisão) que ele havia feito aos 99 anos. Rashi, comentarista da Torá, acrescenta que aquele era o terceiro dia após o Brit Milá, dia em que há mais dor e sofrimento, e D'us apareceu para Avraham com a intenção de visitar o doente e perguntar como ele estava se sentindo. Logo após D'us ter aparecido, Avraham levantou os olhos e viu três beduínos se aproximando. Ele pediu licença para D'us e correu para receber os convidados, tratando-os como reis. Depois disso, quando a conversa foi retomada, D'us avisou para Avraham que os habitantes da cidade de Sdom haviam atingido o limite de maldade e, por isso, a cidade inteira seria destruída.
Deste início da Parashá surgem algumas perguntas. Em primeiro lugar, como o Talmud pode afirmar com tanta certeza que a aparição de D'us foi para fazer Bikur Cholim (visitar um doente)? Se logo depois D'us revelou para Avraham a iminente destruição de Sdom, como o Talmud sabe que D'us não apareceu para Avraham justamente para dar este aviso ou transmitir qualquer outra mensagem profética?
Além disso, vemos que Avraham praticamente deixou D'us “falando sozinho” para receber seus convidados. Desta passagem o Talmud (Shabat 127a) afirma que cumprir a Mitzvá de “Achnassat Orchim” (receber convidados) é maior do que receber a Shechiná (Presença Divina). Por que esta atitude de Avraham não foi considerada um desrespeito com D'us?
Explica o Rav Yohanan Zweig que a resposta está no entendimento mais profundo desta Mitzvá tão importante chamada “Bikur Cholim”. O principal propósito de visitar um doente é garantir que todas as suas necessidades estejam devidamente cuidadas. O paciente deve ser o foco principal da visita, o centro das atenções. Ao darmos este respeito e carinho ao doente, ajudamos muito na sua autoestima e, consequentemente, em sua recuperação. A pessoa se sente querida e cuidada, sente que tem pessoas de confiança com quem ela pode contar, e esta tranquilidade ajuda muito na melhoria da sua saúde.
A Torá nos ensina que nunca um ser humano alcançou ou alcançará o mesmo nível profético de Moshé Rabeinu. Uma das características que diferenciava Moshé de todos os outros profetas era que sua comunicação com D'us acontecia enquanto Moshé estava plenamente consciente, enquanto os outros profetas recebiam sua comunicação Divina em um estado de transe momentâneo. Por Avraham ter interrompido a “visita” de D'us para ir receber os beduínos, isto demonstra que ele estava consciente. Portanto, propósito da “visita” de D'us não poderia ter sido para transmitir a ele nenhuma informação profética. Então nossos sábios aprendem deste versículo que o verdadeiro motivo desta aparição foi apenas para D'us visitar Avraham, que estava doente. Como o propósito era proporcionar a Avraham a alegria da visita, e isto ajudaria na sua recuperação, então era necessário que Avraham estivesse totalmente consciente quando D'us apareceu para ele.
A Parashá começa falando que Avraham estava sentado na porta de casa. Qual a importância deste detalhe? Apesar da dor, Avraham queria muito receber convidados. Para ele doía mais não fazer Chessed (bondade) do que a dor do Brit Milá aos 99 anos. Ele deveria estar na cama se recuperando, mas foi para a porta para não perder nenhuma oportunidade de fazer bondades. Isto era algo que o preenchia, que fazia bem para ele. Como o propósito da “visita” de D'us era pelo benefício de Avraham, pela sua cura, então Avraham ter saído no meio da “visita” de D'us para receber os convidados, algo que também o curava e lhe dava vida, não foi considerado um desrespeito. Porém, se o propósito da “visita” de D'us tivesse sido para comunicar algo a Avraham, então qualquer interrupção teria sido considerada um grande desrespeito com D'us, mesmo que a interrupção fosse para cumprir uma grande Mitzvá.
Da Parashá aprendemos o quanto é importante fazer atos de Chessed com o próximo. Vemos o quanto D'us pessoalmente se preocupa com cada criatura, a ponto de “visitar” uma pessoa que está doente. Devemos então nos assemelhar ao nosso Criador e fazer bondades com o próximo, principalmente com aqueles que precisam e dependem da nossa ajuda. A Mitzvá de Bikur Cholim é uma oportunidade de dar um pouco mais de ânimo para uma pessoa doente, de alegrar um enfermo demonstrando que nos importamos com ele. Muitos estudos científicos demonstram que pacientes que estão felizes se recuperam de uma maneira muito mais rápida do que pacientes que estão tristes. Portanto, visitar um doente não é apenas um ato de bondade. Pode significar dar um pouco mais de vida para alguém.