O VERDADEIRO DONO DA VITÓRIA – PARASHAT MIKETZ E CHÁNUKA

No ano de 1995, um judeu que trabalhava como executivo de marketing teve uma ideia brilhante. E se o “The New York Times”, considerado o jornal mais importante do mundo, publicasse semanalmente o horário de acendimento das velas de Shabat? Alguém teria que pagar pelo espaço, mas imagine o orgulho e a conscientização judaica que resultariam de uma menção tão importante do Shabat toda semana. Ele entrou em contato com um filantropo judeu e expôs a ideia. Custava quase dois mil dólares por semana, mas mesmo assim o filantropo aceitou. E, durante quase cinco anos, a cada sexta-feira, judeus em todo o mundo podiam ler: “Mulheres judias, o horário para o acendimento das velas de Shabat nesta sexta-feira em New York é…”. Por fim, o filantropo teve que cortar alguns de seus projetos. E, em junho de 1999, o pequeno anúncio de Shabat deixou de aparecer no “The New York Times” para, a partir daquela semana, nunca mais aparecer de novo. Exceto uma vez…
 
No dia 1º de janeiro de 2000, o “The New York Times” publicou uma “Edição do Milênio”, com um tema especial nas três primeiras páginas. A primeira página trazia notícias de 1º de janeiro de 1900, a segunda página mostrava as notícias do próprio dia, 1º de janeiro de 2000, enquanto a terceira página projetava futuros eventos para o dia 1º de janeiro de 2100. Esta terceira página incluía coisas bem humoradas, como as boas-vindas ao estado americano de número 51, Cuba. Havia também uma discussão sobre a permissão de robôs votarem nas eleições, entre outros artigos interessantes. Porém, havia algo mais. Ao pé da terceira página estava o horário de acendimento de velas em Nova York para o dia 1º de janeiro de 2100. Mas quem teria pagado por este anúncio, já que aquele filantropo há muito tempo havia parado de doar dinheiro para isso?
 
A verdade logo veio à tona: ninguém havia pagado pelo anúncio, ele simplesmente foi colocado lá de forma gratuita pelo jornal. Quando o gerente de produção do “The New York Times”, um católico irlandês, foi questionado a respeito daquele anúncio, ele respondeu:
 
– Não sabemos o que acontecerá no ano de 2100. É impossível prever o futuro. Porém, de uma coisa vocês podem estar certos: no ano de 2100, mulheres judias ainda estarão acendendo as velas de Shabat…”
 
Qual é o segredo da imortalidade do povo judeu?

Nesta semana lemos a Parashá Miketz (literalmente “Ao fim de”), que continua descrevendo a história de Yossef no Egito. Ele já estava há 12 anos na prisão, acusado falsamente de ter seduzido a esposa de Potifar, um dos ministros do Faraó. Após tantos anos preso injustamente, ele já não tinha mais perspectivas de ser libertado. O Faraó então teve dois sonhos, muito reais, que o deixaram assustado, mas nenhum dos magos egípcios conseguia interpretá-los. Foi então que o copeiro-chefe lembrou-se que, dois anos antes, quando ele e o padeiro-chefe estavam na prisão, eles também haviam sonhado e não conseguiam entender o que os sonhos significavam. Ele mencionou ao Faraó que havia certo judeu, também preso junto com eles, que interpretou os sonhos com sucesso e tudo o que ele falou realmente havia acontecido, com todos os detalhes.
                 
Assim começava mais um capítulo na história de Yossef. Em um piscar de olhos ele foi libertado da prisão e levado ao palácio do Faraó. Após as boas indicações do copeiro-chefe, o Faraó estava confiante no sucesso de Yossef, e assim ele disse: “Eu tive um sonho, mas ninguém consegue interpretá-lo. Porém, agora eu escutei que você consegue escutar um sonho e interpretá-lo” (Bereshit 41:15).
 
Aquele foi um momento especial para Yossef. Era a chance da sua vida, a possibilidade de uma virada. Ele estava diante do rei do Egito, a pessoa mais poderosa do mundo, e aquele homem poderoso precisava dele. Yossef poderia ter pedido o que quisesse: dinheiro, poder, honra. Yossef poderia ter aproveitado aquele momento para garantir sua liberdade ou para se vingar daqueles que haviam feito mal a ele. Porém, apesar de poder atribuir a si mesmo o dom da interpretação dos sonhos, ganhando respeito e a sonhada liberdade, Yossef preferiu deixar claro que não era ele quem interpretava, e sim D'us, como está escrito: “Isto está além de mim. D'us responderá pelo bem estar do Faraó” (Bereshit 41:16).
 
Mas é difícil entender a atitude de Yossef. Ele estava arriscando tudo ao atribuir o sucesso a D'us. O Faraó poderia simplesmente ter dito a ele: “Se é D'us que faz a interpretação, então você pode voltar para a prisão, não preciso de você”. Era um risco muito alto, talvez Yossef nunca mais teria outra oportunidade como aquela! Por que ele não aproveitou para garantir a sua liberdade?

A reação de Yossef em relação ao seu sucesso foi algo incrível, que mostrou sua verdadeira grandeza. Yossef venceu um dos maiores testes da sua vida. Ele sabia que a interpretação de sonhos era um dom de D'us e não uma conquista sua. Ele quis dar os verdadeiros créditos para D'us, especialmente diante do homem mais poderoso do mundo, para que fosse divulgado ao mundo inteiro o poder e a sabedoria de D'us, mesmo sabendo que isto poderia significar o risco de ser mandado de volta para a prisão, sem receber nenhum reconhecimento ou benefício do Faraó.
                                                                             
A Parashá Miketz sempre é lida junto com a Festa de Chánuka, pois há algo incrível que conecta as duas. Em Chánuka revivemos a incrível vitória militar do povo judeu sobre os gregos, o maior e mais poderoso império da época. Através da tática de guerrilhas, um pequeno grupo da família dos Chashmonaim, Cohanim (sacerdotes) responsáveis pelos Serviços do Beit HaMikdash (Templo Sagrado), liderados por Matitiahu, conseguiram a incrível proeza de expulsar os gregos e reestabelecer o Serviço de D'us. Eles poderiam ter facilmente observado a impressionante e improvável vitória militar sobre os gregos como um reflexo de sua proeza e de sua brilhante estratégia. Não seria algo impossível de acontecer, tanto que o poderoso exército dos Estados Unidos saiu humilhado e derrotado da Guerra do Vietnã, quando os combatentes vitnamitas, muito mais fracos em número e em poderio militar, optaram pela tática de guerrilhas e conseguiram causar pesadas perdas aos americanos. Certamente não faltariam estrategistas militares que explicariam a genialidade das táticas utilizadas pelos Chashmonaim.
 
Porém, os Chasmonaim tiveram a mesma reação de Yossef diante do sucesso. Eles entenderam que a verdadeira fonte da força do povo judeu e do sucesso militar vinha de D'us, não de seus esforços. Em comemoração à vitória militar, os Chashmonaim não estabeleceram uma parada militar anual, com desfile de armas e demonstração do poderio militar dos judeus. Em lembrança daquela vitória, os Chashmonaim estabeleceram a Festa de Chánuka. Eles acenderam a Menorá, algo que divulgou o supremo controle de D'us sobre o mundo, pois o óleo que era suficiente para um único dia durou oito dias. Foi uma enorme declaração de que a vitória contra os gregos só havia sido possível graças à ajuda de D'us, e não pela força e sabedoria dos combatentes.
 
Isto também pode ser percebido nas palavras da reza “Al Hanissim”, que nossos sábios acrescentaram, durante todos os dias de Chánuka, na “Amidá” (reza silenciosa, que fazemos três vezes ao dia). O “Al Hanissim” descreve os milagres que ocorreram durante a guerra contra os gregos. Nos chama a atenção que esta reza não fala sobre a nossa força e poder, ao contrário, nos descreve como fracos diante de um poderoso exército. E terminamos esta reza afirmando que o propósito de Chánuka é expressar o agradecimento e o louvor a D'us.
 
O sucesso na batalha contra os gregos não foi apenas uma vitória militar, mas também envolveu uma enorme vitória na área espiritual. A filosofia grega enfatizava e endeusava a força e a sabedoria do ser humano. Em todos os lugares que os gregos chegavam, eles eram vistos como amigos pelos habitantes locais, pois traziam seus incríveis avanços tecnológicos e pregavam suas ideias da supremacia do homem através da ciência, dos esportes e das artes. Porém, em Israel os gregos encontraram um povo que não estava interessado em atribuir o sucesso a eles mesmos e nem em idolatrar o ser humano, e sim servir, agradecer e engrandecer D'us. Os gregos não podiam tolerar este tipo de atitude. É por isso que eles queriam tanto derrotar os judeus, pois esta visão judaica colocava em risco toda a existência da filosofia grega. Os gregos estavam determinados a apagar do mapa o judaísmo e todo o seu sistema de crenças.
 
Chánuka, portanto, não é uma celebração da coragem dos que resistiram à dominação dos tiranos e nem da força do exército judaico. Chánuka celebra D'us e Sua dedicação em ajudar o povo judeu contra seus inimigos. Celebra a derrota da civilização grega, que queria apagar a palavra “D'us” de todos os dicionários do mundo.
 
A batalha contra os gregos foi vencida, mas a guerra continua. Não a guerra física, mas a guerra espiritual. Quando somos atacados covardemente pelos nossos inimigos, através de atos terroristas e atentados suicidas, devemos rezar e nos apoiarmos apenas em D'us, não em nossa força. É um grande erro atribuir nossas vitórias aos nossos avanços tecnológicos e à coragem dos nossos combatentes. A vitória verdadeira está apenas nas mãos de D'us.
 
Todos os povos que se apoiaram em sua própria força e sabedoria estão hoje nos livros de história e nos museus. Os babilônios, gregos e romanos, que acreditavam na força e na sabedoria do ser humano, desaparecerem. Os gregos queriam apagar D'us do mundo e foram completamente apagados. O segredo da imortalidade do povo judeu é que acreditamos na força e na sabedoria de D'us, não do ser humano. Devemos respeitar o ser humano, que foi criado à imagem e semelhança de D'us, mas devemos ter claro que o único e verdadeiro dono da vitória é D'us.
Sישנשא Sישךםצ 
Rabino Efraim Birbojm

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Related Articles

Back to top button