“Um senhor idoso chamado Yossi, muito devoto e doce, estava no Campo de Concentração de Aushwitz. Yossi estava determinado a não deixar que os nazistas vencessem seu orgulho judaico. Ele insistia em jejuar no dia de Yom Kipur, mesmo que isso significava não comer a pequena porção de comida que os prisioneiros recebiam diariamente. Todos os dias, enquanto caminhava pelo Campo de Concentração executando pesados trabalhos braçais, seus lábios proferiam silenciosamente as palavras do Livro de Tehilim (Salmos). Yossi media seus dias pelo número de vezes que completava o Livro de Tehilim.
Quando chegou Chánuka, Yossi estava determinado a acender um Chanukiá. Mas parecia ser algo impossível. Como conseguir óleo, pavios e fósforos no meio do Campo de Concentração, onde nem mesmo comida eles recebiam? Mas Yossi sabia que não tinha escolha. Ele não deixaria o judaísmo morrer, ele nunca aceitaria a vitória dos nazistas. Com muito esforço ele conseguiu um pouco de óleo vegetal, subornando um dos guardas do Campo de Concentração com suas botas de inverno. Subornou outro guarda para conseguir os fósforos e, com alguns fios da sua roupa, fez um pavio. Na primeira noite de Chánuka, Yossi acendeu sua vela caseira, e seu rosto brilhava refletindo o brilho da vela.
Poucos minutos depois a porta se abriu abruptamente e alguns soldados nazistas entraram no dormitório onde Yossi havia acendido a vela. Eles exigiram saber quem tinha acendido a vela e ameaçaram matar todos os prisioneiros do dormitório se não fosse revelada a identidade do “culpado”. Naquele momento, embora curvado pela idade e pela dor do trabalho escravo pesado, Yossi encheu o peito, deu um passo à frente e disse, com orgulho e coragem: “Fui eu que acendi a vela”.
As pessoas que testemunharam a cena dizem que jamais viram alguém demonstrar tanta força e coragem quanto Yossi demonstrou naquele momento. Imediatamente os assassinos arrastaram-no para fora e, sem nenhuma misericórdia, o mataram. Mas os nazistas esqueceram de apagar a vela que Yossi havia acendido. E todos os judeus que estavam presentes afirmam que o milagre de Chánuka voltou a se repetir naqueles dias, pois aquela pequena vela, feita de um pouco de óleo vegetal e fios de uma roupa, ardeu durante os oito dias de Chánuka”
Esta não é apenas a história real de um judeu corajoso chamado Yossi. Esta é a história do povo judeu.
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Nesta semana lemos a Parashá Miketz, que continua descrevendo a história de Yossef no Egito. Após ter ficado 12 anos preso, acusado injustamente de ter atacado a esposa de Potifar, um dos ministros egípcios, Yossef foi libertado da prisão para decifrar o enigmático sonho do Faraó. Ele tornou-se vice-rei do Egito ao entender que o sonho do Faraó era uma mensagem profética, sobre os anos de fome que sucederiam os sete anos de abundância. Yossef aconselhou o Faraó a como se preparar para os anos de fome e acabou salvando sua família, pois a terra de Israel também foi castigada pela fome. Como não havia comida, os irmãos de Yossef foram obrigados a ir ao Egito buscar mantimentos. Yossef, que havia sido vendido muito jovem, reconheceu seus irmãos, mas não foi reconhecido por eles. Ele aproveitou a oportunidade para testar se eles estavam arrependidos por sua venda e pressionou seus irmãos, causando uma série de situações desconfortáveis, para ver como eles reagiriam.
O plano final de Yossef foi esconder na sacola de Biniamin, o outro filho favorito de Yaacov, um cálice de prata. Após a partida deles, Yossef os perseguiu e os acusou de roubo, informando que aquele que tivesse roubado o cálice viraria escravo. O cálice foi encontrado na sacola de Biniamin, para o desespero de seus irmãos. Liderados por Yehuda, todos os irmãos se ofereceram para virar escravos, mas Yossef recusou, dizendo que seria uma abominação castigar inocentes. Apenas Biniamin deveria permanecer como escravo.
O desfecho desta história ocorre apenas na Parashá da semana seguinte, Vayigash. Yehuda, que até aquele momento havia falado com Yossef de maneira delicada e através de um tradutor, se dirigiu a ele de maneira mais dura e direta. Yehuda enfrentou Yossef com duras palavras e ameaças, e se dispôs a ficar como escravo no lugar de Biniamin. Então Yossef, não aguentando mais, se revelou para seus irmãos.
Deste episódio ficam duas perguntas interessantes. Yehudá sabia que Biniamin nunca roubaria nada, que aquela era uma falsa acusação, um pretexto para condená-lo injustamente. Então por que ele não se levantou imediatamente contra esta injustiça? Explicam nossos sábios que ele sabia que era impossível lutar, com um exército de 10 pessoas, contra o Egito inteiro, a maior potência militar da época. Por isso, a única solução lógica era se submeter ao Faraó e se tornar seu escravo. Porém, se este era o motivo, por que depois Yehuda enfrentou Yossef, ato que significava enfrentar o Egito inteiro? O que mudou depois da recusa de Yossef? Além disso, por que a Parashá Miketz sempre coincide com a festa de Chánuka?
A resposta é que, após a recusa de Yossef em libertar Biniamin, os irmãos teriam que voltar para casa e contar ao seu pai que seu outro filho querido também estava perdido para sempre. Isto era ainda mais pesado para Yehuda, que havia ficado responsável por Biniamin e havia garantido ao seu velho pai que o traria de volta são e salvo. Yehuda havia visto Yaacov passar 22 anos em luto por Yossef, ele havia escutado de Yaacov que se Biniamin não voltasse ele morreria de desgosto. Portanto, Yehuda não estava pronto para encarar seu pai com aquela terrível notícia sobre a prisão de Biniamin.
Explica o Rav Noach Weinberg zt”l que deste episódio aprendemos algo impressionante para nossas vidas: quando uma pessoa sabe que não tem outra opção, ela encontra forças para fazer o impossível. Lutar contra o Egito era impossível, mas como era a única alternativa, Yehuda juntou as forças para conseguir. Eram apenas 10 homens contra um exército inteiro, mas como não havia outra possibilidade, Yehuda aceitou o desafio.
É por isso que a Parashá desta semana está sempre conectada com Chánuka. Os gregos, a maior potência militar de sua época, governavam sobre o povo judeu em Israel. Encorajados por judeus que aderiram à cultura helenista, os gregos fizeram vários decretos proibindo a prática do judaísmo. Eles decretaram que os judeus idolatrassem os deuses gregos e ameaçaram de morte aqueles que não obedecessem. Muitos judeus preferiram dar suas vidas a se render aos gregos.
Quando os gregos chegaram a uma cidade chamada Modiim, onde viviam Matitiahu e seus filhos, Cohanim (sacerdotes) da família dos Chashmonaim, as pessoas estavam preparadas para morrer e não fazer idolatria. Mas um judeu, diante de todos, pegou um porco e sacrificou-o diante de um altar de idolatria. Naquele momento, Matitiahu e seus filhos se rebelaram contra os gregos e mataram toda a legião que havia entrado na cidade. Então eles fugiram para as montanhas e, utilizando o sistema de guerrilhas, finalmente conseguiram expulsar os gregos de Israel.
Mas se eles tinham a força para se revoltar contra o exército grego, por que não fizeram isto antes? Por que eles estavam preparados para entregar passivamente suas vidas quando poderiam ter lutado desde o princípio? Pois para um pequeno grupo de camponeses, destreinados e mal equipados, lutar contra um exército bem treinado e armado era impossível. Seria melhor morrer uma morte digna, santificando o nome de D'us, do que lutar contra uma força esmagadora. Então o que mudou? Quando Matitiahu e seus filhos viram um judeu se rendendo diante dos gregos, disposto a fazer idolatria em público, eles perceberam que os gregos poderiam ter êxito em destruir o judaísmo e quebrar o espírito dos judeus. Ver a Torá e os judeus sendo destruídos pelos gregos era algo que Matitiahu e seus filhos não podiam suportar. Diante de uma alternativa inaceitável, eles não tiveram outra opção a não ser fazer o impossível. E, ajudados por D'us, eles conseguiram expulsar os gregos e retomar os serviços do Beit Hamikdash (Templo Sagrado).
A mesma lição precisamos aplicar para os nossos dias. Choramos pelos judeus que morreram no Holocausto, mas esquecemos de chorar pelos judeus que estão sendo destruídos diariamente pela assimilação. Não podemos aceitar que mais de 6 milhões de judeus já se assimilaram e se desconectaram do judaísmo só nos Estados Unidos, desde 1945 até agora. Precisamos encontrar a força para lutar contra o “impossível” e trazer o nosso povo de volta aos caminhos da Torá. Se decidirmos com toda a nossa vontade, certamente D'us nos ajudará, da mesma maneira que ajudou os judeus na época dos Chashmonaim, na época onde o impossível tornou-se possível.
SHABAT SHALOM