Yechezkel era um menino órfão e pobre, que estava prestes a se tornar um bar-mitsvá. Ele nem sonhava em celebrar uma festa, pois não tinha nada para festejar! Ele não teve escolha a não ser procurar trabalho para sobreviver, encontrando um trabalho como mensageiro, distribuindo flores para os moradores da cidade. Seu primeiro salário, recebeu ao final da primeira semana. Feliz e alegre com a possibilidade de se alimentar sozinho, ele foi para o mikvê em Varsóvia, para se preparar para o Shabat. Pendurou as calças em um guarda-roupa cabide com o salário semanal. Ao voltar para se vestir, descobriu que ladrão sem escrúpulos roubou todo o seu dinheiro! Este ato criminoso sacudiu sua alma delicada e o fez pensar sobre o sentido da vida. ”Yehezkel sentou-se tristemente no banco do lado de fora da casa de banhos e pensou consigo mesmo:
Aqui, o trabalho e o suor de uma semana se foram como se eles não tivessem existido em um único momento! Caso o salário fosse mensal ou anual, o resultado seria o mesmo! Ou seja, é possível perder um ano inteiro em um momento! Deste modo, não é neste negócio isto que devo investir. Desejo a mim, o melhor da vida, não investir minha força e energia em algo que os resultados podem se “evaporar” num único momento.
Naquele momento, ele decidiu determinadamente que dedicar-se-ia a um negócio ninguém pode tirar de suas mãos: o estudo da Torá e aprimorar a moralidade. Yechezkel pegou suas malas, e foi para Radin, a yeshivá do Chafetz Chaim. Lá ele cresceu imensamente nos estudos de Torá, acompanhando de perto o comportamento e a conduta de seus mestres. Desta forma ele cresceu bastante, até que foi nomeado como o supervisor espiritual e moral da Yeshivot de Mir e Ponovitz. Este jovem era simplesmente o Rabi Yechezkel Levinshtein Zts”l, que entre outros, foi o autor da renomada e consagrada obra de mussar, Or Yechezkel.
Ele poderia ter chegado a uma conclusão simples que na próxima vez que eu for ao mikvê, não deixarei meu dinheiro no bolso da calça …! E se eu fosse mais ousado, poderia ter me escondido e pego o ladrão, ensinando-lhe lição!!! Aqui estamos lidando com um único menino órfão e decepcionado, muito facilmente poderia chegar em rumos completamente diferentes… Porém ele aprofundou sua observação neste caso e chegou à conclusão que levou-o a ser um dos mestres se não o maior dos mestres de mussar e ética de nossa geração.
Consta na nossa parashá, parashat Ki Tetsê, sobre a mitsvá de devolver algo perdido. Assim consta na Torá (Devarim 22:1-3): ” não encontrarás o touro de seu irmão ou seu carneiro perdidos no caminho e ignorá-los. Deves devolvê-los a seu irmão. Caso seu irmão não esteja próximo de você ou não o conheça, traga o pertence perdido à sua casa e que fique com você até que seu irmão solicite-o para que lhe devolva. Assim farás para seu burro, assim farás para sua roupa, assim farás para qualquer pertence perdido de seu irmão…não poderás ignorar”
Aprendemos que ao encontrar um objeto perdido, a Torá nos ordena que devemos devolver este objeto ao proprietário ou cuidar dele até que o proprietário busque-o. Irmão citado no passuk, a intenção é a cada yehudi, pois somos irmãos uns dos outros.
No Talmud (segundo capítulo de Baba Metsia) consta, que a devolução do objeto perdido será feita somente através de sinais que identifiquem o proprietário. Porém em certos casos o objeto mesmo sendo valioso e com sinais que identificam o proprietário, não é necessário devolvê-lo ao proprietário. Isto pode acontecer num caso de que o proprietário desistiu de encontrar seu objeto. Por exemplo: objeto encontrado depois de uma inundação, não deve ser devolvido, pois o proprietário desistiu de encontrá-lo, pois normalmente em situações destas é impossível restaurar seu objeto. E mesmo que o proprietário grita dizendo que não desistiu, seus gritos não são levados em conta para que o que encontrou esteja obrigado a devolver, pois a maioria das pessoas desiste da propriedade de seus objetos em situações semelhantes.
Assim consta no Talmud (Baba Metzia 21b): disse Rabi Yochanan em nome de Rabi Yishmael ben Yotsdak: ” de onde sabemos que o objeto perdido levado pela correnteza que está permitido ser pego por qualquer um? Pois está escrito no passuk “…que foi perdido de seu irmão…”. somente o que está perdido de seu irmão e é (geralmente encontrado) com outras pessoas, é que deve devolver. Porém este objeto que foi levado pela correnteza, que de modo comum, ninguém pode encontrá-lo, caso alguém surpreendente encontre-o, é dele. O Rashba explica: ” provavelmente este objeto foi totalmente abandonado por seu proprietário. E mesmo que o proprietário diga que não desistiu de sua posse, é permitido, uma vez que D'us determinou na Torá que em casos desses, a é desfeita a propriedade dessa pessoa no objeto.
Um professor de direito na universidade de Buenos Aires enviou uma carta ao rabino Yechiel Yaakov Weinberg, que ele está estudando e pesquisando sobre a lei judaica. Ele escreveu, que achou a Torá uma coisa espetacular, exceto numa certa lei: a devolução de objetos perdidos. Como pode ser, que em um mínimo momento a Torá permite que o objeto seja pego por qualquer um quando foi levado pela correnteza do rio? O proprietário grita em voz alta que não desistiu de seu objeto, está com demasiada angústia e sofrimento por seu objeto perdido e a Torá simplesmente permite que qualquer um tome posse do objeto?
Justamente neste caso, em caso de desistência da posse, é explícita a diferença da lei judaica e da lei comum. A lei comum “santificou” a posse particular. A fonte de todas as posses, é a própria pessoa. Portanto, para que a posse de fulano deixe de “existir”, deve haver um ato que transmite a posse de uma pessoa para a outra. Porém a visão judaica não é assim: tudo é da posse de D'us com está escrito (Tehilim 24:1): ” a terra e tudo o que está nela, é de D'us”. Não existe propriedade particular, a Torá limitou está propriedade, que é caso que o objeto foi perdido e que o proprietário perdeu-o e desistiu dele (ou em caso parecido ao caso do objeto levado pela correnteza), o objeto volta a posse pública, e o primeiro que encontra é dele.
Parece haver outra moral daqui, não apenas em questões de perda de dinheiro, mas na abordagem básica do dinheiro e da propriedade. Consta no Talmud (Eruvin 65b): “O homem é reconhecido no bolso, no copo e na fúria”. Em outras palavras, se você quer conhecer realmente a pessoa, examine seu comportamento em relação ao dinheiro. Pois infelizmente existem pessoas, que quando chegam ao dinheiro, esquecem que são seres humanos. Eles ainda têm um desejo infinito armazenar dinheiro, vêem o dinheiro primordial Para isso, investiram a maioria de suas vidas num único objetivo: juntar dinheiro, como se fossem viver eternamente. Rabi Yechezkel percebeu profundamente que como já não podia mais resgatar para si o dinheiro que suou por ele, decidiu que o que deveria fazer é fazer algo na vida que nunca seria tomado dele em qualquer circunstância, a Torá e as Mitsvot.
DEVEMOS RESSALTAR QUE CADA UM QUE SE ESFORÇOU POR SEU DINHEIRO E SUSTENTO, DEVE E É OBRIGADO A VALORIZAR ISSO E NÃO DESPREZAR O TEMPO INVESTIDO NISSO QUANDO PARECE QUE ESTÁ PERDENDO-O. A PESSOA DEVE, NA MEDIDA DO POSSÍVEL E DE ACORDO COM A SITUAÇÃO PESSOAL DE CADA UM PARTICULAR E PUBLICAMENTE, FAZER O MÁXIMO POSSÍVEL PARA PRESERVAR SEUS BENS. POIS SUOU PARA ELES, E DESPREZÁ-LOS, É DESPREZAR O TEMPO INVESTIDO. E COMO É SABIDO, O TEMPO É O PRESENTE MAIS VALIOSO QUE D'US NOS DEU. A CONCLUSÃO DE RABI YECHEZKEL, FOI FEITA SOMENTE DEPOIS QUE NÃO PODIA RESTAURAR SEU DINHEIRO, E O QUE DEVERIA CONCLUIR DAQUI PRA FRENTE
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