No final da festa de Sucot, festejamos o término de mais um ciclo da leitura da Torá, e iniciamos um novo ciclo que será encerrado no Simchat Torá do próximo ano.
Não somente no término deste ciclo, mas também quando é feito o término de um tratado do Talmud ou de uma das seis partes das mishnayot, também é feita uma festa de encerramento (não tão grande como o encerramento da Torá).
A festa de encerramento é feita se a pessoa terminou o tratado de Macot que contém 24 folhas de guemará, do mesmo modo que é feita caso a pessoa tenha encerrado o tratado de Baba Batra que contém 176 folhas de Guemará. E mais ainda, caso a pessoa tenha estudado 175 folhas do tratado de Baba Batra, não faz a festa de encerramento. Mas se estudou o tratado 24 folhas do tratado de Macot, faz a tal festa mesmo que estudou + ou – 7.3 vezes mais a quantidade de folhas de Macot. Por que?
A resposta é a seguinte: quando se encerra um tratado completamente, na língua hebraica é chamado de שלם (completo). Esta palavra também é a base da palavra שלום (paz). Ou seja a essência de fazer uma festa de encerramento, não é pela quantidade de folhas estudadas, e sim por fazer algo completo. Quando fazemos algo completo, isso nos aproxima de D'us, pois um de Seus nomes é שלום. Então, quando estamos próximos de D'us, é uma alegria tão grande que cada vez que (em certas condições) um ciclo de estudo é encerrado, deve ser feita uma festa, não somente para expressar a alegria pelo término de um ciclo, mas também pela grande oportunidade de estar próximos de D'us.
E se esta é a essência de uma festa de encerramento do Talmud, quão grande será a alegria na festa de encerramento do ciclo de leitura da Torá, que a base e a essência da vida de qualquer Yehudi.
Para que possamos entender o quanto devemos estar contentes em Simchat Torá, devemos nos aprofundar num dos pontos mais essenciais da Torá, que é representado na Parashat Haazinu, que é lida nos dias entre Yom Kipur e Sucot.
Moshe Rabenu precedeu ao cântico da Parashat Haazinu, o seguinte versículo (Devarim 32: 3): ” Ki shem hashem ekrá havu godel leelokênu – Pois chamarei ao nome de D'us, deem grandeza a nosso D'us.”
Segundo o Talmud (Brachot 21 a), Moshe ensinou ao povo a obrigação de recitar as brachot antecedentes ao estudo da Torá.
As únicas berachot que são obrigatórias pela Torá a serem recitadas, são as berachot antecedentes ao estudo da Torá, e o Bircat Hamazon (brachá recitada após comer uma certa quantidade de pão). Este fato demonstra a importância destas brachot.
O profeta Yirmiahu (9:11,12) aponta, o motivo pelo qual o povo foi exilado da terra de Israel na destruição do Beit Hamikdash, e assim diz Yirmiahu: “al ma avdá haarets?…vaiomer hashem al ozvam et torati asher natati lifneihem velo shamu bekoli velo halchu ba – porque a terra foi destruída?…disse D'us por terem abandonado Minha Torá que outorguei perante a eles e não escutam Minha voz e não seguiram-a”
À pergunta do Profeta: “Por que a terra foi destruída?” Não houve resposta dos chachamim ou dos profetas, até que o D'us revelou a causa da destruição.
Por que foi tão difícil revelar o motivo da destruição da terra? Eis que no Tanach consta que o povo abandonou a Torá e não escutou a voz de D'us. Será que isto não é visível? Por que os profetas e os sábios da Torá não podiam apontá-los como as razões da destruição da terra, até que eles tiveram que D'us revelasse a eles a verdadeira razão?
O Talmud (Yomá 9 b) pergunta sobre a dupla redação das palavras do Profeta: ” e não escutaram Minha voz e não seguiram-a”. A dualidade das expressões, é uma incógnita a ser averiguada!
A resposta é que o real motivo não era visível. Somente D'us, que examina profundamente os corações, revelou o verdadeiro motivo, pois não abençoaram a Torá a princípio.
O abandono da Torá que pelo qual o profeta advertiu, não foi um completo abandono da Torá e mitsvot, como está implícito no versículo, mas uma certa situação de desprezo expressada no fato que o povo absteve-se de recitar as brachot devidas no início do estudo. Este fato expressou que o povo não via na Torá a fonte de todas as bênçãos a tal ponto que não lhes era importante recitar uma berachá sobre a Torá.
Mais adiante o profeta (Yirmiahu 9:13) descreve o seguinte: ” vaielchu acharei shrirut libam veacharei habealim asher limdum avotam – eles foram atrás arbitrariedade e atrás dos bealim (idolatria comum na época), que lhes foi transmitida por seus ancestrais”. O pecado de idolatria se espalhou entre as pessoas, e eles eram certamente visíveis e famosos. Deste modo, por qual motivo esta não foi a causa real da destruição, uma vez que é uma causa explícita e revelada?
O Tanach descreve o começo do declínio do povo. Embora o povo tenha se deteriorado mais tarde a ponto de trair a D'us, o que foi expresso na idolatria, mas o profeta se perguntou: como esse processo destrutivo começou?
O segredo do início do processo é revelado apenas por D'us, que, o desprezo pela bênção da Torá, marcou e caracterizou o início da queda.
Mas surge a pergunta: Qual é o significado da bênção da Torá, até que sua ausência aponta para uma falha tão séria? Por que o povo da época não recitou as deviodas berachot da Torá, sendo que isto não é uma coisa tão difícil de ser feita diariamente?
A resposta é que eles não sentiam necessidade espiritual de abençoar a D'us por outorgar a Torá ao Seu povo. A Torá não lhes era importante, para abençoar a D'us por sua outorga.
O estudo da Torá nada mais era do que um mero acréscimo ao conhecimento. A falta de reconhecimento da suprema importância da Torá, que era evidente neles, foi o passo inicial e prejudicial para esta queda e declínio.
Do exposto acima fica claro que o que as brachot anteriores ao estudo da Torá, não são como as berachot anteriores ao proveito de alimentos. As berchot da Torá são muito além deste entendimento.
As berchot anteriores ao proveito dos alimentos, permitem que a pessoa tenha proveito de certos prazeres neste mundo e que não seja considerado que está roubando de D'us, como consta no Talmud (Brachot 35a). Nas brachot da Torá, consta algo muito mais além do que isso. Caso não houvesse a obrigação de antecipar as berachot ao estudo da Torá, a essência que o estudo da Torá é um valor superior em nossas vidas, não seria exaltado.
Outra razão que a Torá é a essência vital em nossas vidas, é o fato que a Torá é comparada à água, como consta no Talmud (Bava Kama 17a), que sem a água não há vida. Á agua sacia a sede, e repõe forças às almas cansadas. Porém todas estas belas definições exigem uma pré condição: que a pessoa esteja com sede!!!! Este conceito implica também na halachá , que a pessoa deve recitar a berachá de sheacol nihiá bidvaró ao tomar água, somente quando está com sede, caso que não acontece, quando alguém toma água por causa de remédio.
Isto é válido também em relação ao estudo da Torá. Caso a pessoa esteja com sede de estudar e aprender palavras da Torá, e para ele a Torá será como a água de uma fonte viva, sem dúvida e com plena certeza, recitará as brachot anteriores ao estudo.
Em vista disso, a repreensão de Yirmiahu ao povo é bem compreendida por não ter abençoado a Torá a princípio. Esta foi uma característica típica da generalização de sua atitude desdenhosa em relação à Torá e, assim, abriu a porta para seu declínio espiritual ao longo do tempo.
O estudo da Torá não pode ser separado da conexão espiritual com D'us que nos outorgou-a. Se uma pessoa se aproxima do estudo da Torá do mesmo modo que se aproxima do estudo das outras ciências, sem levar em conta que D'us nos outorgou a Torá, é possível que a existirá aqui sabedoria, mas não existirá a Torá.
A pessoa deve expressar os sentimentos de gratidão a D'us nas brachot da Torá, como consta no versículo (Devarim 6:6): ” vehaiu hadevarim haele asher anochi metsavechá haiom al levavêcha… – e estarão estas coisas que lhes ensino hoje, em seu coração”. Através de que a pessoa reconhece a D'us, através d estudo da Torá, a pessoa se aproxima Dele.
Na geração do profeta Yirmiahu, estava em falta o apego a D'us e o amor à Ele. Portanto, as brachot anteriores ao estudo da Torá, eram vazias e careciam de conteúdo interior. Foi por isso que eles foram severamente punidos. E uma vez que estes são sentimentos interiores que habitam nas profundezas dos corações, as coisas eram secretas, e até mesmo os sábios e profetas não sabiam sobre elas, até que D'us revelou a verdadeira razão.
A ocupação com o estudo da Torá não pode ser limitada simplesmente pela expansão de horizontes e pela adição de conhecimento por si só. O propósito de aprender a Torá é causar uma mudança fundamental em seus modos de vida. Como resultado do estudo da Torá, a pessoa comporta-se refinadamente e irradia espiritualidade sobre todos os seus arredores.
Essa abordagem básica estava faltando na geração do profeta Yirmiahu.
Quando alguém veio antes de seu Rabi e lhe disse que ele havia aprendido muita Torá, o Rabi lhe perguntou: ” Verdade, você aprendeu muita Torá, mas o que a Torá ensinou a você?
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