A força das palavras

No dia 14-9-1880, dois anos depois da fundação da colônia de Petach Tikva, os habitantes inauguraram o cemitério “segula”, ao lado desta colônia. A halachá fixa, que ao inaugurar um cemitério, deve ser recitada uma reza especial, e somente depois pode ser realizado o primeiro enterro.
 
Quando os dirigentes da Chevra Kadisha terminaram de recitar a reza citada anteriormente, um dos homens perguntou: “Quem está disposto a ser voluntário e ser enterrado primeiro?” Disse certa pessoa: “Eu estou pronto”… Ele era uma pessoa saudável, mas em poucos dias ele faleceu. Em sua matzeivá, consta o seguinte: “Aqui está enterrado … que expressou seu desejo de ser o pioneiro a ser enterrado neste novo cemitério …”. Essa história fortalece em nossa consciência, uma das frases mais famosas ditas por nossos sábios: ” A vida e a morte, estão no domínio da língua… “. as palavras ditas por nós, influenciam diretamente na realidade.
 
Nesta parashá, parashat matot, o primeiro assunto é sobre as promessas feitas pelas pessoas, que ao fazê-las, cada um deve saber que não são palavras da boca pra fora, e sim, algo que deve ser cumprido integralmente, pois há um pacto que tudo o que sai de nossas bocas, deve ser cumprido.
 
A cautela no assunto de promessas e juramentos, é um capítulo importante da doutrina judaica. Mas, de fato, não somente em promessas e juramentos devemos ser cuidadosos, mas também e principalmente em tudo o que sai de nossas bocas. Tudo o que sai de nossas bocas contém um certo grau de santidade, e portanto, não deve ser profanado.
 
O poder da fala é a única coisa que diferencia o ser-humano da raça animal.o e caracteriza o homem do resto da criação. O povo de Israel pode, com o poder de sua boca, elevar-se a alturas elevadas e, portanto, incumbe-lhes ter cuidado para não profanar o que sai de sua boca.
 
Como afirmado, o dever de cautela nas leis das promessas e juramentos não se limita somente ao cumprimento de suas palavras, mas sim, e muito mais, tem implicações de longo alcance para a observância de todas as mitsvot. A Torá, ao nos ensinar sobre tais promessas, escreve as seguintes palavras (Bamidbar 30:2): “esta é a coisa que D'us ordenou”. Está escrito aqui, que a observância e o cumprimento deste preceito de promessas e juramento, constitui uma grande regra em toda a Torá.
 
A chave para a preservação de toda a Torá é o cumprimento do pacto e juramento que o povo de Israel recebeu sobre si no Monte Sinai, na outorga da Torá. Naquela época, o povo judeu aceitou sobre si, como um povo, tudo o que for ordenado por D'us, ao recitarem a famosa frase “faremos e ouviremos”. Desde então, cada uma das pessoas do povo é considerado que como estivesse a cada momento jurando que cumpriria as ordens de D'us outorgadas no Monte Sinai.
 
Assim consta no Talmud (Nidá 30b): antes de que cada neném nasce, ele é informado de todas suas obrigações e devoções tanto em relação aos preceitos entre ele e D'us, e tanto em relação aos preceitos entre o homem e seu próximo. Pois o objetivo pelo qual a alma de cada um baixou para este mundo, é para cumprir os preceitos Divinos, esta obrigação é tão forte a tal ponto, que a alma jura que cumprirá seu dever. Esta obrigação é aceita pelo homem antes mesmo de lhe ser dada vida.
 
Até foi escrito em poucas palavras, sobre a obrigação de cada um de nós a cumprir o que sai de nossas bocas. Porém as palavras de nossas bocas, tem um significado muito mais abrangente do que esta origação. Este significado será apresentado adiante
 
A conversa e a fala, é o meio que liga entre as pessoas, principalmente entre os cônjuges.
 
A utilidade da conversa, é muito nítida na condução de conversas entre marido e mulher. Neste importante assunto, observamos que, uma vez que o sistema de casamento é um quadro de “parceria” entre marido e mulher, a estrutura mental feminina de compartilhar as coisas é compatível com o casamento, enquanto que a estrutura masculina que não é de compartilhar. De qualquer modo os dois devem trabalhar e se esforçar para que a estrutura do casamento tenha mais sucesso.
 
Assim consta no Talmud (Kidushin 49b) “Dez medidas de conversa desceram ao mundo, nove medidas foram tomadas pelas mulheres, e a décima medida pelo mundo inteiro. A fala não é apenas uma característica, mas também um papel, uma missão fundamental de cada mulher.
 
Reconhecemos que, na maioria dos casos, a mulher tende a falar mais do que o homem. A pessoa que não entende o processo de vínculo entre marido e mulher no casamento, pode interpretar que a virtude de conversa da mulher é uma desvantagem, mas depois que determinamos que a alma da mulher é uma alma de parceria, podemos entender porque as mulheres conversam muito. Uma vez que estabelecemos que a raça humana é chamada de falante, uma vez que são dado os meios para se conectar pela fala (ao contrário de todos os animais), e como a tendência da alma da mulher para se conectar é emocional, o meio peloqual ela se concta com seu parceiro de vida, é a fala.
 
O homem, já que ele não tem “alma conectora”, ele não se inclina a conversar, somente se ele tem alguma informação a transmitir ou se quer impressionar a alguém. Após o casamento já que a mulher o conhece,  a tendência de impressionar com imagem positiva diminui, e automaticamente reduz o tempo que um marido se dedica a uma conversa com sua esposa.
 
A necessidade da mulher para o apego emocional através da conversa pode levar à angústia sentimental, porque ela sente que seu marido não está inclinado a conversar com ela. Por exemplo, uma mulher se volta para o marido e oferece-lhe uma chance de conversar e ele concorda, porém aparentemente ele demonstra insatisfação ao dedicar tempo nesta conversa, ou que ele olha inadvertidamente seu relógio esperando que o tempo de conversa chegue ao fim. Nesta situação, ela sente que ele não tem vontade de dedicar tempo à esta conversa, e que ele simplesmente está fazendo à ela um favor. Isto significa que ele não está conectado à ela, e isso aflige seus sentimentos.
 
O intuito de trazer aqui este ensinamento, é para que a mulher conheça as entranhas e as virtudes da alma de seu marido, que o fato que ele não conversa com ela do mesmo modo que ela deseja a conversa com ele, é pelo simples fato que a conversa não é uma das virtudes mais dominantes na personalidade masculina. Outro intuito, é para que o marido saiba que o principal se não o único meio de contato com sua esposa, é a conversa.
 
Determinamos que, na alma feminina, o discurso pertence à parte emocional, enquanto no homem o discurso pertence ao fornecimento de informações. Podemos ver isso no exemplo:
 
Homem: já são duas horas da manhã e a alguma boas horas estamos conversando sobre os assuntos técnicos mais importantes de casa. Amanhã tenho que acordar cedo para estar capacitado a trabalhar com concentração. Preciso dormir logo!!!!!
 
Mulher: é verdade, é tarde e você tem que acordar cedo para o trabalho. Porém, AINDA NÃO FALEI NADA COM VOCÊ HOJE!!!!!!
 
Conto para Shabat-a força de uma bela palavra
 
Avi Katz, fundador da rede de comida rápida Cofix, conta uma história especial que levanta lágrimas, sobre a Rabanit Steinman A”h, esposa do Rabi Aharon Steinman Zts”l.
 
“Minha falecida mãe quando estava viúva, morava nas redondezas da família Steinman em Bnei Brak”.
 
“Nos primeiros oito meses da primeira guerra do Líbano, eu servi no Corpo de Blindados na primeira linha”, diz Katz, “nos primeiros oito meses da guerra, e não havia quase nada de errado que não havia acontecido com meus amigos. A minha volta vi amigos, mortos, feridos e muito mais do que estas linhas podem suportar. Eu vinha de uma família religiosa, cujo pai era falecido,e eu, por certas circunstâncias me alistei ao exército de defesa de Israel. Depois de oito meses, fui para casa em Bnei Brak, para visitar minha mãe e para descansar um pouco. Aproveitei o tempo também para visitar um amigo que esteve gravemente ferido, e para acompanhar outro amigo em seu último caminho sobre a terra.
 
O ponto de ônibus, que existe até hoje, era perto da casa da família Steinman, e também próxima a casa de minha mãe. A sensação era difícil, entre a visita a um ferido e ao acompanhamento a um amigo em seu último caminho, principalmente ao estar me despedindo de minha viúva mãe, sabendo que estava indo para a primeira linha de batalha, sem saber se voltaria à minha mãe ou não.
 
De repente, a Rabanit Steinman A”h saiu de casa. A Rabanit Steinman, era amicíssima de minha mãe, a quem ela não abandonava-a mesmo durante os momentos mais difíceis de sua viuvez, mesmo quando seu marido ficou famoso ao cumprir a missão de Rosh Yeshivá de Ponivez. Repentinamente, a Rabanit Steinman A”h, me pergunta no ponto de ônibus: Avi, como vai? Tudo bem? Não consegui esconder a grande tristeza em que estava. Disse-lhe de onde vinha e para onde estava indo. A Rabanit se esticou toda para mim, e esquentou minha alma dizendo que tudo sairia para o bem, que você saia com a paz e volte com a paz. A Rabanit, não se importou de falar com qualquer pessoa para “esquentar sua alma com belas palavras”. Nada importava. Não minha altura e minha aparência estranha em uniforme, não de uma posição rabínica que já era conhecida na cidade e no público ultra-ortodoxo. A única coisa que lhe importava, era dizer algumas palavras de sentimento quente para um soldado ter força de aguentar a batalha.

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