“Certa vez um grande rabino, que era também um renomado orador, chegou a um pequeno Shtetl (povoado judaico) e encontrou-se com o presidente da comunidade, que imediatamente convidou-o a discursar na sinagoga local. O orador, vendo que era uma comunidade extremamente assimilada, quis saber sobre qual tema poderia discursar. O presidente deixou-o à vontade para falar sobre o tema que quisesse. Quando o orador sugeriu falar sobre Shabat, o presidente quase engasgou e pediu:
– Por favor, escolha outro tema. Neste Shtetl já não guardamos o Shabat há muito tempo!
O orador pensou um pouco mais e comunicou então que falaria sobre Kashrut. Novamente o presidente se sobressaltou e disse:
– Não, Kashrut não! A última loja Kasher deste Shtetl foi fechada há mais de 10 anos.
O orador, já impaciente, disse então que falaria sobre as leis de Pureza familiar. O presidente, quase arrancando os cabelos, gritou:
– Não faça isso! A única Mikve (local para o banho ritual das mulheres) do Shtetl não é utilizada há mais de 15 anos!
O orador estava confuso, pois seus temas preferidos haviam sido vetados. Sobre que tema poderia falar naquele Shtetl? O presidente, vendo a expressão preocupada do orador, abriu um sorriso e disse:
– Amigo, por que você não fala sobre judaísmo?”
Infelizmente a assimilação fez com que muitos assuntos que sempre foram parte central do judaísmo, como Shabat, Kashrut e Pureza familiar, se tornassem conceitos antiquados. Muitos se sentem “judeus de coração”, enquanto as Mitzvót, as ferramentas que verdadeiramente nos conectam com D'us, são deixadas de lado.
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A Parashá desta semana, Ki Tissá, descreve as 2 Tábuas que Moshé recebeu diretamente de D'us. Elas continham os 10 Mandamentos pronunciados por Ele no Monte Sinai, sendo os dois primeiros diante de todo o povo, mais de 3 milhões de testemunhas. A Torá nos ensina que os mandamentos não estavam apenas escritos nas Tábuas com tinta, mas sim gravados nas pedras. Isso era um grande milagre, já que letras como o “Mem Sofit” (ם) e o “Samech” (ס) ficavam com suas partes internas flutuando. A Torá também descreve outra característica interessante das Tábuas: “Moshé virou-se e desceu da montanha com as duas Tábuas do Testemunho em suas mãos; as Tábuas eram escritas dos dois lados, deste lado e do outro lado eram escritas. E as Tábuas eram uma obra de D'us, e a escrita era uma escrita de D'us, gravadas nas Tábuas” (Shemot 32:15,16). Por que D'us fez com que a escrita das Tábuas atravessasse a pedra, isto é, fosse de um lado até o outro? E o que isto nos acrescenta e nos ensina?
Apesar da Torá ter sido entregue diretamente por D'us diante de tantas testemunhas, em toda nossa história muitos movimentos tentaram mudar as leis contidas nela. Na verdade, o argumento utilizado sempre foi de que não querer mudar o judaísmo, e sim modernizar suas leis e adequá-las à nossa realidade. Afinal, não vivemos mais em cabanas sem eletricidade e nosso meio de transporte não são mais camelos e burros. Se o mundo mudou, as leis da Torá também precisam mudar, certo? Errado.
Ensinam os nossos sábios que o fato dos mandamentos terem sido gravados na pedra ao invés de apenas escritos com tinta é exatamente para nos ensinar o caráter eterno da Torá. Ela não foi entregue apenas para a geração do deserto, ela foi escrita para todas as gerações. Pois a Torá foi entregue para a nossa alma, não para o nosso corpo. Nestes últimos 3.300 anos muitas tecnologias avançaram, novos equipamentos foram inventados e nossa forma de vida mudou radicalmente, mas a nossa alma continua exatamente a mesma.
Tivemos muitos inimigos que tentaram nos destruir durante toda nossa existência como um povo. Mas ninguém nos trouxe tanto perigo quanto os movimentos reformistas judaicos, que tentaram arrancar as leis Divinas da Torá e trocá-las por leis “lógicas” criadas pelos seres humanos. Milhares de judeus decidiram seguir estes novos ensinamentos e se afastaram cada vez mais da Torá. Mas apesar de todos os movimentos e tentativas de modificação, a Torá continua viva, sendo cumprida conforme nos foi ensinado por Moshé. Em todo o mundo cada vez mais aumenta o número de “Baalei Teshuvá”, pessoas que vieram de casas completamente assimiladas e afastadas do judaísmo mas que resolveram voltar aos caminhos corretos da Torá. Como é possível que isto tenha acontecido? Parece ser um grande milagre!
Explica o Rav Yossef Salant que realmente a sobrevivência do judaísmo é um grande milagre, mas que já estava profetizada na Torá, justamente nestes versículos que descrevem as Tábuas. Está escrito que os Mandamentos eram gravados na pedra, começando de um lado e terminando do outro. Se escrevermos uma letra em uma pedra até atingir o outro lado, o que acontece? De um lado a escrita fica normal, mas do outro lado ela fica ao contrário. Porém, não era isso o que acontecia nas Tábuas. As letras eram gravadas nas pedras de um lado até o outro lado, mas miraculosamente as letras ficavam escritas corretamente dos dois lados. O que isto nos ensina? Que a existência do judaísmo já estava miraculosamente garantida. Pelas leis da natureza, as letras deveriam sair do outro lado invertidas, mas por milagre saíam com a escrita correta. Assim também ocorre com o povo judeu. As leis que recebemos de D'us, após mais de 3.300 anos de assimilação e tentativas de modernização, deveriam ter se perdido, deveriam ter saído “do outro lado” invertidas, mas continuam miraculosamente intactas.
Nesta Parashá também lemos sobre o terrível pecado do bezerro de ouro. Quando Moshé desceu do Monte Sinai e viu o bezerro que o povo judeu tinha construído, quis saber quem continuava leal a D'us e anunciou: “Quem está com D'us, junte-se a mim” (Shemot 32:26). Somente a tribo de Levi, que não havia participado da construção do bezerro de ouro, juntou-se a Moshé. Por este ato de lealdade, a tribo de Levi foi escolhida para sempre como os responsáveis pelos serviços Divinos do Templo.
Ensinam nossos sábios que todos os dias os dias este mesmo anuncio é feito novamente: “Quem está com D'us, junte-se a mim”. Apesar da profecia, que demonstra que D'us pessoalmente cuida de Suas leis, temos a grande oportunidade de demonstrar nossa lealdade e contribuir para que a Torá chegue “do outro lado” intacta. Isto somente é possível se mantivermos constantemente o estudo e o cumprimento das suas leis. Pois quanto mais um judeu estuda, mais entende a profundidade de cada ensinamento eterno da Torá. Da mesma forma que a tribo de Levi recebeu uma recompensa eterna pelo seu ato de lealdade, certamente nossas decisões corretas, em tempos tão difíceis para o judaísmo, também nos levarão a uma recompensa eterna.
Graças a milhares de Baalei Teshuvá em todo o mundo que tiveram a coragem de mudar, conceitos como o Shabat, a Kashrut e a Pureza familiar, que pareciam tão antiquados, voltaram a fazer parte de nossas vidas. É o judaísmo, verdadeiro e original, ressurgindo “do outro lado” com força total.
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