O escritor Moshe Erlanger conta: “”Há alguns anos, tive que ficar em Yom Kipur na cidade de Frankfurt, Alemanha. Aluguei um quarto em um hotel perto da Grande Sinagoga de Frankfurt, improvisei a última refeição antes do jejum e fui rezar com um sentimento de carência e saudades de Israel. Descobri uma sinagoga magnífica, com 2.000 fiéis, cuja maioria não frequenta o local durante o ano. O Chazan (oficiante) começou o 'Kol Nidrei', e parecia estar em uma tempestade de emoções. Sua voz engasgou, quebrou, subiu e desceu. Todo o público se emocionou com ele. No final da oração, eu me aproximei dele. “Muito prazer, meu nome é Zadok Greenwald”, disse ele. Perguntei por que ele estava tão emocionado com o Kol Nidrei, e ele respondeu: há anos eu sou o chazan aqui em Rosh Hashana e Yom kipur. Como descendente de sobreviventes da Shoah, é um grande privilégio fazer isso aqui, logo nesta maldita terra. Há alguns anos, no final de Yom Kipur, eu estava prestes a sair. Os últimos fiéis já haviam saído para quebrar o jejum, o Gabay (administrador da sinagoga) trancara o portão da frente e eu saí por uma porta lateral, faminto e cansado. Perto do portão principal, vi um homem idoso com uma kipa branca presa ao cabelo com um grampo. Ele se virou para mim e perguntou: 'Por que os portões da sinagoga estão trancados? Quando será o Kol Nidrei? Por favor, me responda, por que os portões estão trancados?'. Eu fiquei calado. Meu coração ficou quebrado. “Querido judeu, ouça, Yom Kippur foi ontem”, eu disse gaguejando, “os fiéis foram para casa e haverá Kol Nidrei novamente daqui a um ano. O homem pegou minha mão e começou a chorar como um garotinho. “Eu nunca perdi o Kol Nidrei. Prometi a meu pai, que sua lembrança seja abençoada, que todo ano eu ouviria o Kol Nidrei em uma sinagoga. Esta é minha única conexão com meu pai. Essa é a minha única conexão com o meu judaísmo. Eu sabia o que fazer. “Judeu, você não perdeu nada”, eu disse a ele. “Eu sou o Chazan principal desta sinagoga, venha comigo para ouvir o Kol Nidrei.” Abri a entrada lateral, sentei-o em uma cadeira, dei a ele um machzor, envolvi-me no Talit e comecei a dizer o Kol Nidrei. Foi a reza mais poderosa da minha vida. Milhares de cadeiras vazias, e somente eu, ele e D’s. Eu esqueci o jejum. Eu me concentrei na conexão entre um judeu distante e seu pai. E, na verdade, com o meu pai também. Avinu shebashamaim (nosso pai que está no céu). Não o vi novamente desde então, mas toda vez que faço o Kol Nidrei, penso nele, nos milhões de judeus na mesma situação. Também penso na porta lateral, pela qual, no final, qualquer um pode entrar”.
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