Mesmo com a espada no pescoço

“Chaim foi levado a julgamento, acusado de um grave crime. Era uma acusação tão pesada que, caso ele fosse condenado, poderia receber a pena de morte. Seus parentes e amigos não economizaram para contratar os melhores advogados e fazer de tudo para inocentá-lo. Porém, apesar dos esforços incansáveis dos advogados, eles não tiveram sucesso em derrubar as acusações da promotoria. Infelizmente Chaim foi condenado à morte.
 
O desapontamento foi enorme, mas não era motivo para desistir. Ainda havia a possibilidade de recorrer a uma instância superior e apelar pela revogação da pena. Para este novo julgamento foram contratados mais advogados e uma enorme fortuna foi investida para tentar salvar Chaim. Mas novamente a promotoria foi mais forte e o decreto se manteve.
 
A situação foi ficando cada vez mais séria, pois as chances de reverter a pena foram diminuindo. Mas ainda havia uma esperança: o pedido de clemência feito diretamente ao rei. Foram recrutadas pessoas importantes, que tinham acesso direto ao rei, para que falassem coisas boas sobre Chaim. Além disso, a família de Chaim transbordou a caixa de correio do palácio real com cartas que descreviam a situação difícil da família de Chaim, em especial seus jovens filhos e seus pais idosos, além de outros fatos que poderiam despertar a misericórdia do rei. Porém, todos os esforços pareciam ser em vão, pois o decreto continuava de pé e a data da execução se aproximava. A família e os amigos já estavam entrando em depressão, pois Chaim foi levado ao “corredor da morte” para aguardar sua execução. Sobrava ainda apenas uma pequena ponta de esperança, irracional, de que algo inesperado aconteceria para salvá-lo, quem sabe algum milagre.
 
Quando chegou o fatídico dia, Chaim foi levado para a sala de execuções. Os familiares, ao escutarem as notícias, ficaram desesperados e perderam as últimas esperanças. Já não havia mais nada que podiam fazer para salvá-lo.  A pessoa apontada pelo tribunal para aplicação da pena de morte desembainhou sua espada, verificou se ela estava devidamente afiada e apoiou sobre o pescoço de Chaim, que ficou aguardando os poucos segundos até o golpe final. Quando o homem levantou a espada para dar o golpe fatal, um grito o fez parar. O rei entrou subitamente na sala de execução e mandou interromper a aplicação da pena. O pedido de clemência havia sido aceito. No último momento, quando já praticamente não restavam esperanças, chegou a salvação”.
 
Explica o Rav Yitzchak Zeev Soloveitchik zt”l (Bielorússia, 1886 – Israel, 1959) que esta é uma ilustração do famoso ensinamento dos nossos sábios: “Mesmo se uma espada afiada está apoiada sobre seu pescoço, não desista da misericórdia”. Nunca podemos desistir, mesmo quando tudo parece perdido. Esta é a Emuná (fé) verdadeira. 


Na Parashá desta semana, Shoftim (literalmente “Juízes”), a Torá fala sobre as futuras guerras que o povo judeu travaria na conquista de Israel. Moshé deu um discurso para fortalecer a Emuná (fé) do povo, como está escrito: “Quando você sair para a guerra contra seus inimigos, e vir o cavalo e a charrete, um povo mais numeroso que você, não os tema, pois D'us está com você, Quem te tirou da terra do Egito” (Devarim 20:1). Moshé estava especialmente preocupado com o medo que o povo judeu poderia sentir de seus inimigos, pois após o relato dos dez espiões, que voltaram dizendo que os habitantes da Terra de Israel eram gigantes e as cidades eram muito fortificadas, o medo e a insegurança fez com que o povo chorasse e aquela geração inteira fosse proibida de entrar em Israel.
 
Porém, ao refletir sobre este discurso de Moshé para fortalecer a Emuná do povo, surge um questionamento. Por que foi tão grave aquele choro do povo judeu? Não é natural sentir medo diante de uma grande dificuldade ou uma situação na qual as condições são adversas? Como reagiríamos ao escutar que os inimigos que vamos enfrentar são gigantes que vivem em fortalezas? Qual foi exatamente a falha do povo, pela qual mereceram receber um castigo tão duro?
 
Explica o Rav Yechezkel Levenstein zt”l (Polônia, 1895 – Israel, 1974) que é uma obrigação daquele que tem Emuná saber que não há nada que D'us é incapaz de fazer. Temos a obrigação de reconhecer que não existe em toda Criação nenhuma lei ou força independente do controle total Dele. Nada acontece sem a Sua permissão, nem mesmo a folha de uma árvore cai se esta não foi a Sua vontade.
 
Mas manter a nossa Emuná completa em todas as situações não é algo fácil e muitas vezes nós tropeçamos nesta Mitzvá, pois acabamos associando que as coisas acontecem por “causas naturais”, como se fossem forças independentes de D'us e sem a Sua supervisão. Até mesmo grandes personalidades da Torá tiveram seus pequenos deslizes nesta área. Por exemplo, quando Sara escutou o anjo disfarçado de beduíno avisando para Avraham que eles teriam um filho, sua primeira reação foi rir com descrédito, recebendo uma dura crítica de D'us: “Existe algo impossível para D'us?” (Bereshit 18:14). De acordo com as “leis da natureza” realmente era impossível Sara engravidar aos 90 anos. Porém, vivemos em um mundo que não é regido pelas leis da natureza, e sim por D'us, que tem controle sobre tudo. Sara, aos 90 anos, engravidou e teve um filho, indo contra todas as forças e leis da natureza.      
 
Ter Emuná significa ter a certeza de que, da mesma forma que D'us criou o universo inteiro, Ele pode mudar toda a ordem da Criação se esta for a Sua vontade. D'us renova Sua Criação a cada instante e, portanto, pode mudar qualquer lei do mundo quando quiser. Isto significa que aquele que tem Emuná verdadeira tem a obrigação de nunca desistir, em qualquer tipo de situação. Mesmo que um doente já esteja desacreditado pela medicina, mesmo quando tudo parece perdido, não podemos desistir, como ensina o Talmud (Brachót 10a): “Mesmo que uma espada afiada esteja colocada sobre seu pescoço, não desista da misericórdia”. É proibido desistir da misericórdia de D'us em qualquer situação. A única coisa que pode mudar é a intensidade das nossas Tefilót (rezas) e pedidos para D'us, pois a Tefilá aumenta os nossos méritos e, em situações difíceis, são necessários mais méritos para uma intervenção Divina.
 
Muitos pensam que aquele que tem Emuná está em um nível especial e diferenciado. Mas a verdade é que não existe Emuná “pela metade”, temos a obrigação de desenvolver uma Emuná completa. Seremos julgados pela nossa falta de Emuná mesmo em assuntos que, de acordo com as “leis da natureza”, parecia não haver mais esperança ou salvação. Por que a falta de Emuná é considerado algo tão grave, a ponto de uma geração inteira ter perdido o mérito de entrar em Israel? Pois D'us tem controle total sobre tudo o que ocorre no universo, cada pequeno detalhe. Ele controla até mesmo cada grama que cresce e cada gota de chuva que cai. Para D'us não existe nenhuma diferença se existem “causas naturais” para a salvação ou não. Portanto, quando a pessoa perde suas esperanças, é como se estivesse limitando as possibilidades de D'us e dando forças independentes para as leis da natureza. Esta foi a grande bronca de D'us em Sara, pois o riso, mesmo sem intenção, demonstrou que ela não acreditava com toda sua força que D'us poderia reverter as leis da natureza que Ele mesmo criou. O choro do povo judeu demonstrou que eles não acreditavam que D'us poderia leva-los à vitória, limitando-O, e por isso não mereceram entrar em Israel.
 
Podemos tropeçar neste tipo de erro no nosso cotidiano. Quando estamos procurando uma vaga de estacionamento, muitas vezes não rezamos por pensar que isto é “algo pequeno demais para incomodar D'us”. Porém, na realidade isto é falta de Emuná. É difícil para D'us, que criou todo o universo, conseguir uma vaga para nós? D'us é limitado e não consegue cuidar de várias coisas ao mesmo tempo? Não pedir a vaga é como se estivéssemos limitando a capacidade de atuação de D'us no mundo e, portanto, é considerado um grande erro. O correto é justamente o contrário, pois quando pedimos a D'us coisas pequenas do cotidiano, colocamos no coração a certeza de que tudo vem Dele.
 
Há ainda outro grande teste de Emuná que talvez é ainda mais difícil: conseguir lembrar que tudo vem de D'us mesmo nas situações em que há “causas naturais” para que algo ocorra. Por exemplo, uma enfermidade cuja cura é conhecida pela medicina. Neste caso, o grande teste é conseguir enxergar que a salvação não está vindo dos remédios ou da habilidade do médico, e sim diretamente de D'us. Esquecemos que foi D'us quem decretou que aquele remédio cure, e que foi Ele quem deu sabedoria ao médico para fazer o diagnóstico correto e receitar o remédio adequado.
 
A própria linguagem do versículo já demonstra o quanto não podemos nos deixar levar pelas impressões do mundo material. “Um povo mais numeroso que você” significa que, mesmo que pelas leis da natureza não haveria chance de vencer o inimigo, o povo judeu deveria estar confiante na vitória e não deveria sentir nenhum tipo de temor. Rashi (França, 1040 – 1105) explica que a linguagem “cavalo e charrete”, no singular, significa que não importa quantos cavalos e charretes se levantam contra o povo judeu, aos olhos de D'us é tão insignificante quanto um único cavalo e uma única charrete. Também a linguagem “mais numeroso que você” é como se D'us estivesse dizendo: “Para você eles são mais numerosos, mas para Mim eles não são numerosos”.  A Torá está nos ensinando que o sentimento do povo judeu quando sai para a guerra deve ser a mesma tranquilidade de quem sai para combater um único cavalo e uma única charrete, pois enquanto nossos inimigos apostam na vitória de pessoas de carne e osso, nós apostamos na vitória de D'us, e aos olhos Dele não há nenhuma diferença se é um povo numeroso ou não.  
 
Na verdade, a Mitzvá de Emuná é ainda mais profunda do que imaginamos. Não apenas que não há nenhum benefício em se apoiar nas “causas naturais”, mas ao contrário, a salvação de D'us vem justamente no momento em que parece que não há mais esperanças. Assim nos ensinou David HaMelech: “Muitas são as aflições do Tzadik (Justo), mas de todas elas D'us o salva” (Tehilim 34:19). A salvação de D'us vem justamente quando parece que são muitas as aflições que recaem sobre o Tzadik, como se não houvesse mais nenhuma chance de salvação. O motivo que D'us coloca a pessoa em uma situação na qual aparentemente não há esperanças é para que Ele possa avaliar se a sua Emuná é completa ou não.
 
Daqui aprendemos, portanto, que todo o tempo em que confiamos nas “causas naturais” e nos sentimos dependentes delas, é um sinal que estamos desconectados da nossa Emuná verdadeira. A Emuná exigida de nós é uma confiança plena em D'us, de que Ele está no controle e sempre faz o que é o melhor para nós. Quando realmente internalizarmos este conceito, perceberemos que as dificuldades são apenas testes que Ele manda para nos ajudar a crescer e melhorar em diversas área, em especial na Emuná. Mesmo quando a espada afiada está sobre o nosso pescoço, para D'us trazer a salvação não existe nenhuma dificuldade, pois para Ele não há diferença se está perto do fim ou não. A Emuná nos permite, apesar de vivermos em um mundo de incertezas e dificuldades, encontrar um oásis de tranquilidade e paz.

SHABAT SHALOM

R' Efraim Birbojm

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O desapontamento foi enorme, mas não era motivo para desistir. Ainda havia a possibilidade de recorrer a uma instância superior e apelar pela revogação da pena. Para este novo julgamento foram contratados mais advogados e uma enorme fortuna foi investida para tentar salvar Chaim. Mas novamente a promotoria foi mais forte e o decreto se manteve.
 
A situação foi ficando cada vez mais séria, pois as chances de reverter a pena foram diminuindo. Mas ainda havia uma esperança: o pedido de clemência feito diretamente ao rei. Foram recrutadas pessoas importantes, que tinham acesso direto ao rei, para que falassem coisas boas sobre Chaim. Além disso, a família de Chaim transbordou a caixa de correio do palácio real com cartas que descreviam a situação difícil da família de Chaim, em especial seus jovens filhos e seus pais idosos, além de outros fatos que poderiam despertar a misericórdia do rei. Porém, todos os esforços pareciam ser em vão, pois o decreto continuava de pé e a data da execução se aproximava. A família e os amigos já estavam entrando em depressão, pois Chaim foi levado ao “corredor da morte” para aguardar sua execução. Sobrava ainda apenas uma pequena ponta de esperança, irracional, de que algo inesperado aconteceria para salvá-lo, quem sabe algum milagre.
 
Quando chegou o fatídico dia, Chaim foi levado para a sala de execuções. Os familiares, ao escutarem as notícias, ficaram desesperados e perderam as últimas esperanças. Já não havia mais nada que podiam fazer para salvá-lo.  A pessoa apontada pelo tribunal para aplicação da pena de morte desembainhou sua espada, verificou se ela estava devidamente afiada e apoiou sobre o pescoço de Chaim, que ficou aguardando os poucos segundos até o golpe final. Quando o homem levantou a espada para dar o golpe fatal, um grito o fez parar. O rei entrou subitamente na sala de execução e mandou interromper a aplicação da pena. O pedido de clemência havia sido aceito. No último momento, quando já praticamente não restavam esperanças, chegou a salvação”.
 
Explica o Rav Yitzchak Zeev Soloveitchik zt”l (Bielorússia, 1886 – Israel, 1959) que esta é uma ilustração do famoso ensinamento dos nossos sábios: “Mesmo se uma espada afiada está apoiada sobre seu pescoço, não desista da misericórdia”. Nunca podemos desistir, mesmo quando tudo parece perdido. Esta é a Emuná (fé) verdadeira. 

 

Na Parashá desta semana, Shoftim (literalmente “Juízes”), a Torá fala sobre as futuras guerras que o povo judeu travaria na conquista de Israel. Moshé deu um discurso para fortalecer a Emuná (fé) do povo, como está escrito: “Quando você sair para a guerra contra seus inimigos, e vir o cavalo e a charrete, um povo mais numeroso que você, não os tema, pois D'us está com você, Quem te tirou da terra do Egito” (Devarim 20:1). Moshé estava especialmente preocupado com o medo que o povo judeu poderia sentir de seus inimigos, pois após o relato dos dez espiões, que voltaram dizendo que os habitantes da Terra de Israel eram gigantes e as cidades eram muito fortificadas, o medo e a insegurança fez com que o povo chorasse e aquela geração inteira fosse proibida de entrar em Israel.
 
Porém, ao refletir sobre este discurso de Moshé para fortalecer a Emuná do povo, surge um questionamento. Por que foi tão grave aquele choro do povo judeu? Não é natural sentir medo diante de uma grande dificuldade ou uma situação na qual as condições são adversas? Como reagiríamos ao escutar que os inimigos que vamos enfrentar são gigantes que vivem em fortalezas? Qual foi exatamente a falha do povo, pela qual mereceram receber um castigo tão duro?
 
Explica o Rav Yechezkel Levenstein zt”l (Polônia, 1895 – Israel, 1974) que é uma obrigação daquele que tem Emuná saber que não há nada que D'us é incapaz de fazer. Temos a obrigação de reconhecer que não existe em toda Criação nenhuma lei ou força independente do controle total Dele. Nada acontece sem a Sua permissão, nem mesmo a folha de uma árvore cai se esta não foi a Sua vontade.
 
Mas manter a nossa Emuná completa em todas as situações não é algo fácil e muitas vezes nós tropeçamos nesta Mitzvá, pois acabamos associando que as coisas acontecem por “causas naturais”, como se fossem forças independentes de D'us e sem a Sua supervisão. Até mesmo grandes personalidades da Torá tiveram seus pequenos deslizes nesta área. Por exemplo, quando Sara escutou o anjo disfarçado de beduíno avisando para Avraham que eles teriam um filho, sua primeira reação foi rir com descrédito, recebendo uma dura crítica de D'us: “Existe algo impossível para D'us?” (Bereshit 18:14). De acordo com as “leis da natureza” realmente era impossível Sara engravidar aos 90 anos. Porém, vivemos em um mundo que não é regido pelas leis da natureza, e sim por D'us, que tem controle sobre tudo. Sara, aos 90 anos, engravidou e teve um filho, indo contra todas as forças e leis da natureza.      
 
Ter Emuná significa ter a certeza de que, da mesma forma que D'us criou o universo inteiro, Ele pode mudar toda a ordem da Criação se esta for a Sua vontade. D'us renova Sua Criação a cada instante e, portanto, pode mudar qualquer lei do mundo quando quiser. Isto significa que aquele que tem Emuná verdadeira tem a obrigação de nunca desistir, em qualquer tipo de situação. Mesmo que um doente já esteja desacreditado pela medicina, mesmo quando tudo parece perdido, não podemos desistir, como ensina o Talmud (Brachót 10a): “Mesmo que uma espada afiada esteja colocada sobre seu pescoço, não desista da misericórdia”. É proibido desistir da misericórdia de D'us em qualquer situação. A única coisa que pode mudar é a intensidade das nossas Tefilót (rezas) e pedidos para D'us, pois a Tefilá aumenta os nossos méritos e, em situações difíceis, são necessários mais méritos para uma intervenção Divina.
 
Muitos pensam que aquele que tem Emuná está em um nível especial e diferenciado. Mas a verdade é que não existe Emuná “pela metade”, temos a obrigação de desenvolver uma Emuná completa. Seremos julgados pela nossa falta de Emuná mesmo em assuntos que, de acordo com as “leis da natureza”, parecia não haver mais esperança ou salvação. Por que a falta de Emuná é considerado algo tão grave, a ponto de uma geração inteira ter perdido o mérito de entrar em Israel? Pois D'us tem controle total sobre tudo o que ocorre no universo, cada pequeno detalhe. Ele controla até mesmo cada grama que cresce e cada gota de chuva que cai. Para D'us não existe nenhuma diferença se existem “causas naturais” para a salvação ou não. Portanto, quando a pessoa perde suas esperanças, é como se estivesse limitando as possibilidades de D'us e dando forças independentes para as leis da natureza. Esta foi a grande bronca de D'us em Sara, pois o riso, mesmo sem intenção, demonstrou que ela não acreditava com toda sua força que D'us poderia reverter as leis da natureza que Ele mesmo criou. O choro do povo judeu demonstrou que eles não acreditavam que D'us poderia leva-los à vitória, limitando-O, e por isso não mereceram entrar em Israel.
 
Podemos tropeçar neste tipo de erro no nosso cotidiano. Quando estamos procurando uma vaga de estacionamento, muitas vezes não rezamos por pensar que isto é “algo pequeno demais para incomodar D'us”. Porém, na realidade isto é falta de Emuná. É difícil para D'us, que criou todo o universo, conseguir uma vaga para nós? D'us é limitado e não consegue cuidar de várias coisas ao mesmo tempo? Não pedir a vaga é como se estivéssemos limitando a capacidade de atuação de D'us no mundo e, portanto, é considerado um grande erro. O correto é justamente o contrário, pois quando pedimos a D'us coisas pequenas do cotidiano, colocamos no coração a certeza de que tudo vem Dele.
 
Há ainda outro grande teste de Emuná que talvez é ainda mais difícil: conseguir lembrar que tudo vem de D'us mesmo nas situações em que há “causas naturais” para que algo ocorra. Por exemplo, uma enfermidade cuja cura é conhecida pela medicina. Neste caso, o grande teste é conseguir enxergar que a salvação não está vindo dos remédios ou da habilidade do médico, e sim diretamente de D'us. Esquecemos que foi D'us quem decretou que aquele remédio cure, e que foi Ele quem deu sabedoria ao médico para fazer o diagnóstico correto e receitar o remédio adequado.
 
A própria linguagem do versículo já demonstra o quanto não podemos nos deixar levar pelas impressões do mundo material. “Um povo mais numeroso que você” significa que, mesmo que pelas leis da natureza não haveria chance de vencer o inimigo, o povo judeu deveria estar confiante na vitória e não deveria sentir nenhum tipo de temor. Rashi (França, 1040 – 1105) explica que a linguagem “cavalo e charrete”, no singular, significa que não importa quantos cavalos e charretes se levantam contra o povo judeu, aos olhos de D'us é tão insignificante quanto um único cavalo e uma única charrete. Também a linguagem “mais numeroso que você” é como se D'us estivesse dizendo: “Para você eles são mais numerosos, mas para Mim eles não são numerosos”.  A Torá está nos ensinando que o sentimento do povo judeu quando sai para a guerra deve ser a mesma tranquilidade de quem sai para combater um único cavalo e uma única charrete, pois enquanto nossos inimigos apostam na vitória de pessoas de carne e osso, nós apostamos na vitória de D'us, e aos olhos Dele não há nenhuma diferença se é um povo numeroso ou não.  
 
Na verdade, a Mitzvá de Emuná é ainda mais profunda do que imaginamos. Não apenas que não há nenhum benefício em se apoiar nas “causas naturais”, mas ao contrário, a salvação de D'us vem justamente no momento em que parece que não há mais esperanças. Assim nos ensinou David HaMelech: “Muitas são as aflições do Tzadik (Justo), mas de todas elas D'us o salva” (Tehilim 34:19). A salvação de D'us vem justamente quando parece que são muitas as aflições que recaem sobre o Tzadik, como se não houvesse mais nenhuma chance de salvação. O motivo que D'us coloca a pessoa em uma situação na qual aparentemente não há esperanças é para que Ele possa avaliar se a sua Emuná é completa ou não.
 
Daqui aprendemos, portanto, que todo o tempo em que confiamos nas “causas naturais” e nos sentimos dependentes delas, é um sinal que estamos desconectados da nossa Emuná verdadeira. A Emuná exigida de nós é uma confiança plena em D'us, de que Ele está no controle e sempre faz o que é o melhor para nós. Quando realmente internalizarmos este conceito, perceberemos que as dificuldades são apenas testes que Ele manda para nos ajudar a crescer e melhorar em diversas área, em especial na Emuná. Mesmo quando a espada afiada está sobre o nosso pescoço, para D'us trazer a salvação não existe nenhuma dificuldade, pois para Ele não há diferença se está perto do fim ou não. A Emuná nos permite, apesar de vivermos em um mundo de incertezas e dificuldades, encontrar um oásis de tranquilidade e paz.

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