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 NÃO DESISTA SEM TENTAR – PARASHAT LECH LECHÁ

Um dos peixes favoritos de muitos aficionados por aquários é a carpa japonesa, mais conhecida como “Koi”. Porém, o que mais chama a atenção nesta carpa não é a sua beleza, e sim o seu fascinante crescimento, que varia de acordo com o ambiente onde ela é criada.

Se você cria um Koi em um pequeno aquário, ele cresce muito pouco e, mesmo adulto, atinge um tamanho máximo de 5 centímetros. Já quando o Koi é criado em uma pequena piscina, em idade adulta ele pode chegar a 25 centímetros de comprimento. Porém, o mais impressionante ocorre quando o Koi é criado em um grande lago. Neste tipo de ambiente, ele pode chegar, em idade adulta, a até 90 centímetros de comprimento. O Koi é um peixe impressionante, pois seu crescimento é diretamente proporcional ao tamanho do local onde ele é criado.

Há uma incrível analogia do Koi com os seres humanos. As pessoas são como as carpas japonesas, pois crescem de acordo com as limitações que colocam em suas próprias cabeças. As pessoas que acham que são pequenas ficam realmente pequenas por toda a vida. Mas as pessoas que decidem ser grandes e que escolhem vencer todas as limitações da vida são aquelas que realmente chegam à grandeza.

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Na Parashá desta semana, Lech Lechá, a Torá começa a descrever a força espiritual de Avraham Avinu, o homem que revolucionou o mundo e deixou seu nome escrito para sempre na história da humanidade. Mesmo após o dilúvio, que ocorreu na geração de Noach (Noé) e quase destruiu a humanidade, as pessoas não aprenderam nada com a lição de D'us e rapidamente voltaram a se desviar dos caminhos corretos. Pouco mais de 300 anos após o dilúvio as pessoas transgrediram gravemente, tentando construir uma enorme torre que levaria o homem até o céu para lutar contra D'us. E assim a humanidade começou a se afastar cada vez mais do Criador e a se apegar na adoração de ídolos. Na geração de Avraham o normal eram as idolatrias, e as pessoas colocavam toda a sua crença em deuses de pedra e madeira. Mesmo o pai de Avracham, Terach, não apenas acreditava nas idolatrias, mas tinha até mesmo uma loja que vendia ídolos. Foi neste péssimo ambiente que Avraham cresceu, mas com uma força descomunal ele conseguiu vencer as pressões sociais e encontrar racionalmente D'us. Graças aos esforços de Avraham as idolatrias foram amplamente abandonadas e se tornaram uma exceção. Pelo seu mérito, atualmente a grande maioria da humanidade acredita em um D'us único. De onde Avraham tirou esta força para lutar contra tantas dificuldades? Como ele conseguiu se levantar contra a crença de uma sociedade inteira?

Avraham passou por muitos testes e dificuldades, e conseguiu vencer todos eles. Um dos grandes testes de Emuná (fé) foi que, até os 99 anos, ele não tinha filhos com sua esposa Sara. Seu desejo por filhos não era por motivos egoístas, ao contrário, ele tinha motivações muito elevadas. Ele ansiava por um descendente que daria continuidade ao seu trabalho de divulgar a unicidade do Criador do mundo. D'us então tranquilizou Avraham e prometeu que ele teria muitos descendentes, como está escrito: “E tirou-o para fora e disse: 'Olhe, por favor, para o céu e conte as estrelas, se você puder contá-las'. E disse para ele: 'Assim serão seus descendentes'” (Bereshit 15:5). O que significam estas palavras de D'us?

O entendimento mais simples do versículo é que D'us estava prometendo para Avraham uma descendência tão numerosa quanto as estrelas do céu. Da mesma forma que Avraham não conseguiria contar as estrelas do céu, assim também D'us prometeu que ele teria uma descendência tão numerosa que seria quase incontável. Mas será que a promessa era apenas numérica? Apenas ter descendentes numerosos é suficiente para garantir a permanência de um povo para sempre?

Responde o Rav Yehuda Meir Shapiro, o Lubliner Rav, que nas palavras de D'us estava uma incrível mensagem para o povo judeu, os descendentes de Avraham Avinu. Quando D'us ordenou que Avraham contasse as estrelas, Ele estava pedindo algo quase impossível. Sem nenhum equipamento moderno, como os telescópios e satélites, sem nem mesmo um papel quadriculado para servir de guia para fazer uma contagem aproximada, o pedido de D'us parecia algo inatingível. Apesar disso, mesmo sabendo que era uma tarefa praticamente impossível, Avraham saiu e começou a contar as estrelas. Ele não sabia como terminaria seu trabalho, mas isto não foi motivo para ele não começar. Ele não procurou se esquivar, não tentou fugir da responsabilidade, não se recusou a ao menos tentar.

Isto explica as palavras finais do versículo: “Assim serão seus descendentes”. D'us não estava apenas nos dando uma Brachá quantitativa, era também uma Brachá qualitativa. Avraham deu origem a um povo com o potencial de vencer o impossível, de superar os limites, de nunca desistir. Por isso Avraham é chamado de “Avinu” (nosso pai), pois da mesma maneira que um pai transmite aos filhos sua genética, Avraham transmitiu aos seus descendentes sua “genética espiritual”.

Contam que no século 17 o rei da Prússia, Frederico II, tinha um conselheiro espiritual muito sábio e certa vez quis desafiá-lo. O rei pediu uma prova, imediata e irrefutável, da existência de D'us. O conselheiro, sem hesitar, respondeu: “Os judeus, majestade. Os judeus”. Em todas as gerações o povo judeu passou por muitas dificuldades e perseguições. Os egípcios nos escravizaram, os gregos tentaram nos helenizar à força, os babilônios e romanos destruíram nossos Templos e nos espalharam pelos quatro cantos do mundo, os cruzados e os cossacos nos perseguiram com ódio mortal, os portugueses e espanhóis nos expulsaram sem piedade e os alemães tentaram metodicamente nos exterminar. Deveríamos ser um povo fraco e que anda pelos cantos, com vergonha de levantar a cabeça. Os judeus, que representam menos de 0,5% da humanidade, não deveriam ser nem mesmo conhecidos. Mas, apesar de todas as dificuldades, o povo judeu continua vivo e forte, orgulhoso de sua herança e de cabeça erguida. Nossa existência é tão milagrosa que nos tornamos provas ambulantes da existência de D'us. Como eternizou o escritor Mark Twain em sua famosa pergunta: “Qual é o segredo da imortalidade do povo judeu?”. Todos os grandes impérios surgiram, dominaram o mundo, tiveram sua época de esplendor e depois desapareceram. Mas o povo judeu, que viu todos eles, foi o único que venceu o teste do tempo. O segredo é que herdamos de Avraham a característica de fazer o impossível, de ir contra todas as probabilidades.

Mas de onde Avraham tirou forças para fazer o impossível? Quando ele escutou a ordem de D'us, ele não ficou procurando desculpas para não cumprir Suas ordens, ele não desistiu sem antes tentar. Ele sabia que se D'us estava pedindo, mesmo que parecia impossível, então ele deveria ao menos fazer a sua parte. Como ensinam os nossos sábios: “Você não tem a obrigação de terminar todo o trabalho, mas você também não é livre para se isentar de participar dele” (Pirkei Avót 2:16).

Herdamos de Avraham este potencial, mas infelizmente muitas vezes não o utilizamos. Gostaríamos de crescer espiritualmente, mas achamos que nunca vamos chegar lá, então desistimos sem nem mesmo tentar. Lemos os livros de grandes sábios, como o Chafetz Chaim ou o Rambam (Maimônides), e pensamos: “Eles foram grandes pessoas pois já estavam predestinados ao sucesso”. Isto é um grande erro. Mesmo os maiores sábios do povo judeu tinham as suas lutas internas e precisavam de muito esforço para vencer as dificuldades. A diferença não é que eles já estavam predestinados. A diferença é que eles acreditaram que poderiam chegar lá e não desistiram até conseguir. A vida deles também foi cheia de tropeços, de falhas, de tentativas frustradas, mas eles nunca pararam diante dos obstáculos. Como eles sempre pensaram grande, eles lutaram e alcançaram o sucesso.

Assim garantem os nossos sábios: “Não há nada que resista à força de vontade”. Se realmente decidirmos crescer e fizermos todo o esforço necessário, focando no nosso crescimento e não nas dificuldades, então certamente D'us nos ajudará a alcançar nosso objetivo na vida. Pois somos os descendentes de Avraham Avinu, o homem que tornou possível o que era impossível.

“Não sabendo que era impossível, foi lá e fez” (Mark Twain)

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