Yossef denominou seu filho primogênito de Menashê. A Torá nos diz por que lhe deu este nome: “Ki nasháni Elokim et col amali veet col bêt avi” (Bereshit 41:51) – Pois D’us fez-me esquecer todas as minhas penas e toda a casa de meu pai.
Cabe-nos perguntar o seguinte sobre esta passagem: Estaria correto Yossef dar nome a seu filho levando em consideração seu esquecimento da casa de seu pai e ainda agradecer ao Eterno por este fato?
Foi nessa casa que Yossef recebeu a preciosa educação do patriarca Yaacov, com o qual estudou partes das mishnayot, conforme a explicação da passagem: “Ki ben zekunim hu lo” – Yossef era filho da velhice de Yaacov. A palavra zekunim é formada pelas letras záyin, cuf, nun, yod, e mem que são as iniciais das palavras Zeraim, Codashim, Nashim, Yeshuot e Moed, nomes de cinco dos seis volumes das mishnayot.
Porém esta passagem, que relata o esquecimento de Yossef da casa de seu pai, tem outro sentido, conforme nos explica o rabino Bentsiyon Bruck zt”l em seu livro Heg’uyonê Mussar. A explicação é a seguinte:
É evidente que o sofrimento de Yossef por estar distante da casa de seu pai era incalculável. Seu pai lhe transmitiu todos os estudos que adquiriu no bêt midrash de Shem e Êver e amava Yossef imensamente. Além de estar longe da casa de seu pai, Yossef sofreu por ter sido vendido por três vezes e chegou até a ser preso sem justa causa.
Yossef poderia achar que seus irmãos fossem os culpados por todos os sofrimentos pelos quais passou. Ele poderia pensar que, estar distante de seu pai e do aconchego da família, a falta de estudo da Torá em companhia de Yaacov e sua prisão, fossem apenas conseqüências de seus irmãos terem-no vendi-do como escravo.
Entretanto, Yossef não guardou nenhum sinal de rancor e agradeceu ao Todo-Poderoso por ter-lhe dado a oportunidade de aperfeiçoar suas virtudes, não guardando mágoa dos irmãos e esquecendo completamente o que lhe fizeram. Por isso, chamou seu filho primogênito de Menashê, derivado da palavra nasháni – ressentimento.
Quando os irmãos de Yossef foram ao Egito e ele os reconheceu, consta na Torá: “Vayizcor Yossef et hachalomot asher chalam” (Bereshit 42:9) – E lembrou Yossef os sonhos que sonhou. O Gaon de Vilna zt”l diz que daqui inferimos Yossef não lembrou em nenhum instante o que lhe fizeram (que fora jogado no poço e vendido). Ou seja; Yossef não guardou nenhum ressentimento de seus irmãos.
Este comportamento de Yossef nos ensina uma grande lição. Mesmo que as circunstâncias e os motivos sejam justos para que guardemos mágoa de outras pessoas, mesmo que nos pareça que alguém causou nosso sofrimento ou nosso fracas-so profissional e mesmo que nossa natureza seja guardar rancor nestas situações, devemos controlar nossos corações, pois isto levaria ao ódio.
Yossef Hatsadic deve nos servir de exemplo. Embora tenha passado por muitos infortúnios, não guardou mágoa e ressentimento. Ele conseguiu purificar seu coração de todos estes males.
O Talmud Guitin 58 relata que Rabi Yehoshua ben Chananyá foi certa vez a Roma. Contaram-lhe que lá estava preso um menino de linda fisionomia, bonitos olhos e cabelos cacheados. Rabi Yehoshua foi até a prisão para vê-lo e perguntou-lhe: “Mi natan limshissá Yaacov Veyisrael levozezim” (Yesha’yáhu 42:24) – Quem expôs Yaacov e Yisrael ao insulto e ao desprezo? E o menino respondeu: “Halô Hashem zu chatánu Lo” – foi D’us, porque pecamos a Ele. Rabi Yehoshua declarou, então, ter certeza de que este jovem seria um líder espiritual no futuro, e recebeu sobre si a tarefa de não sair da cidade até resgatar o menino por qualquer valor que fosse exigido.
Muitos de nossos sábios perguntam, se somente porque tinha lindos olhos e boa aparência merecia ser resgatado da prisão. Por outro lado, se ele merecia ser resgatado somente porque Rabi Yehoshua sentiu que seria um futuro líder espiritual, por que havia então a necessidade de o Talmud descrever seu aspecto físico?
O Talmud nos ensina algo muito profundo. Quando um indivíduo comum está passando por algum sofrimento e principalmente se ainda é uma criança, normalmente estaria magoado, com fisionomia abatida e espírito abalado, sem cuidar de seu aspecto físico. O sofrimento e a tristeza do indivíduo refletem em seu rosto.
Aquele menino entretanto, ao contrário do habitual, possuía controle total sobre si, e seu semblante apresentava-se tranqüilo e sereno. Ao comprovar isso, Rabi Yehoshua percebeu que estava perante alguém especial. Sendo assim, previu que a criança seria, no futuro, um grande personagem, como de fato aconteceu. Este jovem tornou-se o grande mestre Rabi Yishmael ben Elishá, um dos sábios que sofreram torturas e humilhações pelo Império Romano.
Nossos sábios nos ensinam no Talmud San’hedrin 85, que mesmo em momentos de perigo não devemos mudar de comportamento, mantendo-nos sempre em nosso nível. Sobre esta passagem, Rashi traz uma prova de que este é comportamento correto.
Quando Chananyá, Mishael e Azaryá foram jogados no forno por Nevuchadnetsar, eles apresentaram-se com suas vestes nobres costumeiras.
Portanto, o indivíduo deve manter seu equilíbrio em todas as situações, seguindo os exemplos de Yossef Hatsadic e de Rabi Yishmael ben Elishá, não guardando rancor e confiando com fé absoluta no Criador.
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