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O Bem-estar dos outros

“O Sr. Johnson pediu para conversar com seu supervisor e foi convidado a ir à sala dele. O Sr. Johnson estava com uma expressão séria no rosto quando entrou, e começou a falar:
 
– Chefe, tenho um pedido importante para fazer. Amanhã minha esposa está planejando fazer uma grande arrumação e limpeza em casa. Ela me pediu ajuda, e me deixou responsável pela limpeza da garagem e do sótão, e certamente será um trabalho duro, que inclui empurrar móveis pesados de um lado para o outro, empacotar coisas e jogar muito lixo fora. Além disso, ela me disse que precisa de ajuda para cuidar das crianças, mantê-las ocupadas, dar comida e banho nelas. Por isso, preciso que você me dispense amanhã do trabalho para que eu possa ajudá-la.
 
– Johnson – respondeu o chefe – você é um ótimo funcionário e eu entendo a necessidade de sua esposa. Porém, infelizmente estamos atualmente com poucos funcionários e não temos ninguém para te substituir. Por isso, não posso te dispensar de jeito nenhum amanhã, me desculpe.
 
Para a surpresa do supervisor, que esperava uma reação de nervosismo e irritação, Johnson imediatamente abriu um enorme sorriso, deu um grande abraço no supervisor e disse:
 
– Obrigado, chefe. Sabia que eu podia contar com você…”
 
Será que nos nossos relacionamentos estamos realmente preocupados com as necessidades dos outros e sempre buscando formas de ajudar, ou preferimos buscar formas de nos isentar das nossas responsabilidades?

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 Nesta semana lemos a Parashá Itró. Entre outros assuntos, a Parashá traz os Dez Mandamentos, entregues ao povo judeu na primeira e última vez na história da humanidade na qual D'us se revelou a um povo inteiro. Estes mandamentos são fundamentais para a nossa conduta, tanto em relação à D'us quanto em relação ao próximo. D'us dividiu os Mandamentos em duas tábuas, cinco Mandamentos baseados no nosso relacionamento com Ele e cinco Mandamentos baseados no nosso relacionamento com o próximo, justamente para nos ensinar como o nosso relacionamento com o próximo é tão importante aos olhos de D'us.
 
O primeiro mandamento, que é a base para todas as Mitzvót da Torá, nos chama a atenção em seus detalhes. Está escrito: “Eu sou Hashem, teu D'us, que te tirou do Egito” (Shemot 20:2). Este Mandamento exige de nós Emuná, a crença de que existe um Criador, que criou todo o Universo e controla cada pequeno detalhe de tudo o que ocorre com “Hashgachá Prati” (Supervisão Particular). Mas por que está escrito que Hashem é o D'us que nos tirou do Egito? Não teria sido mais apropriado Hashem ter se definido como o D'us que criou o Universo? Se D'us é definido como o Criador, isto O coloca como o único responsável por toda a existência, mas se Ele é definido como Aquele que nos tirou do Egito, isto O coloca apenas como o responsável por um evento histórico, algo muito menor, que não expressa a verdadeira grandeza Dele. Portanto, por que utilizar esta expressão logo no primeiro Mandamento?
 
O Rav Shlomo Itzchaki zt”l (França, 1040 – 1105), mais conhecido como Rashi, traz duas explicações. Em primeiro lugar, Rashi explica que é como se D'us estivesse dizendo ao povo judeu: “Eu sou o D'us que tirou vocês do Egito, e isto já é razão suficiente para que vocês sirvam a Mim”. Aparentemente Rashi está explicando que nós somos obrigados a servir a D'us pelo fato Dele ter nos salvado da tirania do Faraó. Rashi traz também outra explicação, baseada em um Midrash (parte da Torá Oral) que afirma que quando D'us estava punindo os egípcios, Ele apareceu ao povo judeu como um “homem de guerra”, enquanto no Monte Sinai, no momento da entrega da Torá, Ele apareceu como um “homem idoso cheio de misericórdia”. Como havia o risco de o povo judeu achar que existiam duas divindades independentes, então D'us fez questão de afirmar “Eu sou o D'us que tirou vocês do Egito”, isto é, existe apenas um único D'us, que se manifestou de forma diferente nas duas ocasiões. D'us estava se identificando no Monte Sinai como sendo aquela mesma força que havia tirado o povo judeu do Egito, para desfazer qualquer mal entendido.
 
Porém, há algo aparentemente contraditório nas duas explicações trazidas por Rashi. Se o Midrash afirma que D'us apareceu para o povo judeu no Monte Sinai como um idoso cheio de misericórdia, então como este idoso misericordioso estava afirmando que o povo judeu deveria se subjugar a Ele? Não parecem ideias contrárias, alguém demandando subserviência e, ao mesmo tempo, sendo um ancião misericordioso?
 
Explica o Rav Yohanan Zweig que a resposta está no entendimento correto das palavras do Rashi. Quando o povo judeu saiu do Egito, iniciou-se um relacionamento do povo com D'us. A primeira resposta do Rashi não significa que a base do nosso relacionamento com D'us é que nós devemos a Ele nossa fidelidade por Ele ter nos salvado do Egito. Ao contrário, Rashi está explicando que a base para qualquer relacionamento saudável é que cada uma das partes se preocupe com o bem estar do outro. O fato de Hashem ter nos tirado do Egito reflete Sua compaixão e o cuidado com o povo judeu e é, portanto, a pedra fundamental do relacionamento. O que Rashi está nos ensinando é que a expressão “isto já é razão suficiente para que vocês sirvam a Mim” significa que é apropriado que o ato de D'us, de nos ter tirado do Egito, seja a base para que sirvamos a Ele, pois foi a demonstração do Seu comprometimento e da Sua preocupação com o nosso bem estar. Por isso a Torá afirma que, a partir daquele momento, era a nossa vez de mostrar o nosso comprometimento.
 
O relacionamento criado no Monte Sinai entre D'us e o povo judeu é descrito pelos nossos sábios como um casamento e, portanto, deveria refletir um caráter de exclusividade. Se estivesse declarado que D'us é o Criador do Universo, isto não indicaria nenhuma preocupação especial e única com o povo judeu, e por isso não poderia ser a pedra fundamental do casamento entre os dois. Já a saída do Egito, que foi feita única e exclusivamente para o povo judeu, é a base apropriada para nossa conexão eterna.
 
Esta Parashá nos traz um incrível ensinamento sobre o nosso relacionamento com D'us que também deve ser utilizado em todos os nossos relacionamentos humanos. A base de qualquer relacionamento, para que ele seja sincero, verdadeiro e duradouro, precisa ser a vontade de fazer o bem, de querer ajudar o outro, e não uma motivação egoísta, de pensar no que podemos ganhar com o relacionamento. Não são raras as histórias de pessoas ricas, cheias de “amigos”, que ficaram sozinhas após terem perdido seu dinheiro. Por que isto acontece? Pois não eram amigos verdadeiros, eram apenas oportunistas querendo aproveitar e “sugar” tudo o que fosse possível. O amigo de verdade é aquele que quer o seu bem, que quer fazer algo por você, não aquele que quer apenas receber.
 
Isto não se aplica apenas nos relacionamentos de amizade, mas também é a base para um casamento verdadeiro e duradouro. O primeiro casamento registrado na Torá é o de Adam e Chavá (Adão e Eva), enquanto eles ainda estavam no Gan Éden. Quando D'us criou o mundo, havia apenas Adam, e D'us exclamou: “Não é bom o homem estar sozinho; farei para ele uma companheira correspondente a ele” (Bereshit 2:18). Mas esta afirmação de D'us é difícil de ser entendida. Há um Midrash (parte da Torá Oral) que afirma que Adam estava em um lugar paradisíaco, com os anjos servindo-o com as melhores iguarias e cuidando de todas as suas necessidades. Então por que D'us afirmou que não era bom o homem estar sozinho? O que faltava para ele? Respondem os nossos sábios que realmente não faltava nada para Adam receber, mas mesmo assim ainda faltava algo para ele ser completo: alguém com quem ele pudesse fazer bondades. Enquanto Adam não tinha Chavá, ele não podia se comportar como D'us, que apenas faz bondades sem receber nada em troca. Cada vez que nos comportamos como D'us, nos conectamos a Ele e nos preenchemos, enquanto toda vez que nos comportamos ao contrário de D'us, nos desconectamos Dele e aumentamos ainda mais o nosso vazio existencial.
 
A essência de um casamento verdadeiro é quando há comprometimento entre as partes, quando o foco de cada um é visar o bem estar do outro, buscar maneiras de como fazer bondades, não apenas querer receber e ter proveito. Hoje em dia há muitos divórcios, pois as pessoas perderam até mesmo a claridade de qual é o propósito do casamento. O casamento se tornou algo egoísta, uma tentativa de preencher o que nos falta. Mas tudo isso vem da falta de claridade de que o que nos preenche de verdade é o que fazemos e doamos para os outros, não o que recebemos.
 
 

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