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O FOGO DAS DISCUSSÕES

A Parashá desta semana, Korach, é uma incrível demonstração de que a nossa Torá é um livro de Emet (verdade). A Torá não esconde nem encobre nenhuma transgressão, mesmo as cometidas por Tzadikim (pessoas justas e corretas). Além disso, ao estudarmos sobre os erros cometidos por outras pessoas, podemos aprender valiosos ensinamentos para as nossas vidas, e de forma muito mais objetiva, pois é mais fácil enxergar os erros dos outros do que os nossos próprios erros.
 
A Parashá descreve um triste episódio que envolveu inclusive pessoas da tribo espiritualmente mais elevada do povo judeu, a tribo de Levi. Motivado pela inveja e pela busca de honra, Korach, um homem da tribo de Levi, iniciou uma rebelião contra Moshé e Aharon, seus primos. Através de sua lábia, Korach conseguiu envolver mais 250 homens da tribo de Levi em uma disputa contra a liderança de Moshé. O principal argumento de Korach era que as escolhas de Moshé como líder e Aharon como Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) haviam sido planejadas por eles mesmos e não haviam sido uma indicação de D'us. Para alcançar seu objetivo, Korach usou a força da “Leitzanut” (fazer palhaçada com coisas sérias), ridicularizando em público os ensinamentos de Moshé e tentando mostrar contradições que provavam que ele não era uma pessoa elevada.

Infelizmente as consequências desta rebelião foram trágicas. Os líderes da rebelião, Korach, Datan e Aviram, foram tragados pela terra junto com suas famílias e seus pertences, um milagre aberto de D'us, algo que nunca havia ocorrido na história. Além disso, os 250 homens da tribo de Levi que também participaram da rebelião, ao oferecerem um incenso que D'us não havia comandado, foram consumidos por um fogo celestial. D'us havia demonstrado, de maneira aberta e milagrosa, que Moshé estava certo e Korach e seus seguidores eram os verdadeiros transgressores. Porém, para a nossa surpresa, tudo isto não foi suficiente para acabar com a força da Machloket. Outros milagres e tragédias tiveram que acontecer para que a situação se acalmasse.
 
Apesar de sabermos que as Machlokot criam desunião, algo que enfraquece muito o povo judeu, estamos longe de entender os verdadeiros efeitos do “fogo” de uma Machloket sobre o ser humano. De acordo com o Rav Leib Chassman zt”l (Lituânia,1869 – Israel, 1935), da nossa Parashá podemos entender a gravidade e a profundidade da transgressão de criar Machlokot. As Machlokot cegam e desviam o nosso coração, nos afastando dos caminhos de D'us. A prova disto é que, mesmo após todas as provas que D'us deu ao povo sobre a escolha Divina de Moshé e o quanto ele era correto, através da morte milagrosa de todos os rebeldes, mesmo assim o povo continuou reclamando, demonstrando que o fogo da Machloket ainda não havia se extinguido, como está escrito: “E no dia seguinte, reclamou toda a congregação dos Filhos de Israel sobre Moshé e Aharon, dizendo: 'Vocês mataram o povo de D'us'” (Bamidbar 17:6). Depois de um milagre tão grande, feito diante dos olhos de todo o povo, eles ainda não acreditaram em D'us, demonstrando que a Machloket cega os nossos olhos e entorpece o nosso coração. Esta obstinação custou caro ao povo judeu, que foi castigado com uma dura praga, como está escrito: “E foram os mortos na praga 14.700 pessoas” (Bamidbar 17:14).
 
Porém, o mais assombroso é perceber que nem mesmo a morte de tantas pessoas foi suficiente para apagar o fogo da Machloket. Logo depois desta praga, D'us fez ainda mais uma demonstração milagrosa de que Aharon era o verdadeiro escolhido para ser o Cohen Gadol. O líder de cada tribo trouxe um cajado, com o nome da tribo escrito nele. Aharon, representando a tribo de Levi, também trouxe o seu cajado. Todos eles foram colocados dentro do Mishkan e, no dia seguinte, o cajado de Aharon milagrosamente tinha florescido e brotado amêndoas. Este era o sinal definido por D'us, como está escrito: “E será o homem que for o escolhido, seu cajado vai brotar, e Eu farei diminuir as reclamações dos Filhos de Israel” (Bamidbar 17:20). Destas palavras aprendemos que até este evento milagroso dos cajados o povo judeu continuava reclamando, mesmo que já haviam ocorrido diversas provas de que Moshé e Aharon estavam com a razão. Somente então terminou a força da Machloket, o “fogo” iniciado por Korach e seus seguidores.
 
A Parashá, portanto, traz uma demonstração assustadora da força de uma Machloket, um fogo que, quando aceso, dificilmente consegue ser controlado e apagado, causando muitas tragédias dentro do povo judeu. Quando uma pessoa entra em uma discussão, dificilmente mantém a sua claridade e a sua objetividade, pois a partir deste momento ela não busca mais a verdade, e sim apenas vencer a discussão. Por isso, mesmo quando fica claro que a pessoa está errada, ela continua em sua cegueira, não querendo enxergar o que é óbvio.
 
Pensamos que Machlokot destrutivas ocorrem apenas em grandes discussões. Mas a verdade é que mesmo dentro das famílias, dentro de grupos de amigos e dentro das sinagogas são criadas Machlokot, às vezes até mesmo por motivos banais. Enquanto um fogo está apenas no palito de fósforo, temos total controle sobre seus efeitos. Mas a partir do momento em que o fogo começa a se espalhar, com muita facilidade perdemos o controle. O fogo tem um incrível poder destruidor, causando dezenas ou centenas de vítimas em questão de minutos. Assim também são as Machlokot, mesmo quando achamos que elas estão “sob controle”, com muita facilidade podem acabar se espalhando e deixando vítimas pelo caminho.

Como foi mencionado pelo Chafetz Chaim, após os 120 anos todos nós prestaremos contas dos nossos atos. A Machloket queima e destrói os nossos méritos. Mesmo Korach, um grande Tzadik, que certamente havia feito milhares de Mitzvót na vida, perdeu tudo por causa de sua Machloket. 250 homens da tribo de Levi, que não haviam participado de outras terríveis transgressões feitas pelo povo judeu no deserto, como o bezerro de ouro e o envio dos espiões, acabaram tropeçando por causa da Machloket. Por isso, não importa o nosso nível, devemos tentar fugir das discussões, para não termos problemas no nosso julgamento no Olam Habá e possamos ter o mérito de uma vida longa e cheia de Brachót neste mundo.

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