Para poder identificar as motivações por trás do avanço religioso de uma pessoa, determinando se são verdadeiras ou se é uma fuga, devemos escutar a pessoa e analisar o seu comportamento (ou analisar a nós mesmos, caso estejamos nos auto-avaliando).
Quando a religião pode ser perigosa?
É possível identificar quando uma pessoa está indo por um caminho não saudável em nome da religião, seja qual for, até mesmo a judaica, e também endireitar essa tendência para que se consiga ter uma pessoa saudável e positiva. O primeiro passo é identificar o que o (a) levou fazer tais escolhas. Seguem as causas negativas:
- Achar que o mundo é doente, que o ser humano não presta.
- Excesso de culpa e rigidez consigo mesmo.
- Deixar de fazer escolhas ponderadas, perder a individualidade.
- Ter uma autoestima extremamente baixa e vergonha de si mesmo.
Nesses dois últimos casos, a baixa autoestima se traduz num vazio interior disfarçado de total entrega espiritual. A pessoa deixa de fazer suas próprias escolhas, não por que já chegou ao nível de substituir totalmente suas próprias vontades pela vontade de D'us, o que seria uma virtude alcançada apenas pelos grandes sábios de cada geração, mas por ter desistido de si mesma, por achar que ela não tem valor, se alienando e não fazendo mais escolhas. As suas escolhas não são autênticas, feitas por ela mesma, fruto de uma luta, mas fugas de si própria. Essa pessoa pode até parecer um grande Tsadik num primeiro momento, mas logo ficará claro que por trás de tanta falta de individualidade e de escolhas pessoais se escondem sérias dificuldades psicológicas.*
Portanto, muitas vezes o que parece excesso de devoção é, na verdade, uma falta de percepção do próprio valor. É preciso saber de onde vem essa baixa autoestima. O exemplo mais comum é o de uma infância problemática, onde ninguém tentou ajudá-la, buscando entender seus problemas e sentimentos, e onde foi constantemente criticada por seus pais e professores, ou agredida física ou psicologicamente por seus colegas. Outro exemplo é ter tido uma história de frustrações constantes e um consequente ceticismo quanto ao próprio sucesso.
Esses são os casos mais comuns que levam uma pessoa a querer fugir de si mesma e procurar refúgio em algo que ela interpreta como uma mudança de vida e uma solução para tudo; ou ainda, uma maneira de se vingar do seu mundo cruel. Ou seja, uma ilusão.
A verdade é que não existe alguém no mundo capaz de doutrinar uma pessoa emocionalmente saudável. Por outro lado, aquele que já está desacreditado com o mundo ou consigo mesmo, é muito facilmente atraído, qualquer que seja a história que lhe contem. Tem sorte aquele que é atraído pelas as mãos de pessoas boas, que lhe ensinam uma religião positiva, e o ajudam a se recuperar mas, mesmo nesse caso, podemos dizer que está ali por sorte. Poderia ter chegado às mãos de qualquer outro tipo de pessoa.
Podemos identificar a tendência da pessoa pelo que ela fala. A seguir, algumas frases negativas. Note que elas sempre são genéricas, sem detalhes ou especificações. Elas também tendem a dividir a existência entre dois pólos: o do bem e o do mal:
- O mundo laico não presta.
- Não há nada de bom fora da vida religiosa.
- O mundo dos religiosos é perfeito, (é correto dizer que a religião, ou a Torá é perfeita, porém não a sociedade religiosa)
Essa pessoa irá ainda demonstrar, em seus argumentos, a existência de um conflito, ou até uma guerra entre a sociedade religiosa e a laica, como se fosse possível separar toda a complexidade humana em apenas dois grupos.
No comportamento, ela provavelmente perderá o senso de humor e a identidade, apenas imitando um modelo de determinados religiosos.
O que é a busca espiritual verdadeira?
Não é uma fuga, mas uma escalada. A pessoa tem interesse em explorar o significado da sua existência, da existência do universo, e quer se aproximar de D'us. Para saber se a pessoa está nesse caminho, devemos verificar se, não importando o nível de devoção e do cumprimento das mitzvót, nem do quanto ela está convencida das suas atitudes, a pessoa continua a ser ela mesma, embora com escolhas diferentes. O importante é que essas escolhas sejam autênticas e não cópia de outras pessoas, como alguém que quer fugir de si mesmo e se abrigar num outro universo. Note que ela poderá estar extremamente convicta com suas escolhas, e não apresentar nenhuma abertura para abandoná-las. Mas isso não é negativo. Convicção não tem nada a ver com doutrinação, o que seria extremamente destrutivo. Uma pessoa pode estar altamente convicta de algo por ter analisado a fundo uma teoria. Por outro lado, doutrinação é quando alguém é levado a acreditar em algo por meios não racionais ou pela manipulação dos sentimentos.
O que leva agúem a abraçar a religião positiva?*
São vários aspectos, entre eles:
- Sentir que sua vida precisa de um significado e de um objetivo que vá além dos objetivos materiais e sociais, como aproveitar os prazeres materiais desse mundo e do acúmulo de dinheiro ou do status social;
- Acreditar que o mundo não é perfeito mas que, por meio da religião, ele vai contribuir para que esse mundo melhore.
- Admirar uma pessoa, família ou sociedade religiosa que leve uma vida que lhe agrada por algum motivo como, por exemplo, ter filhos bem educados, uma casa que funciona muito bem, onde não há brigas conjugais. (notem que admirar não significa idealizar, ou ter a ilusão de que essas pessoas não têm defeito algum).
- Sentir que os estudos religiosos o estão preenchendo mais do que qualquer outro tipo de atividade.
Os sinais de que a pessoa religiosa está indo para o caminho certo são perceptíveis, em primeiro lugar, na sua fala. Ouvem-se frases capazes de serem desenvolvidas e detalhadas, que não têm um ponto final. É possível, a partir delas, desenvolver uma conversa ou um debate:
Admiro muito o mundo religioso,
(Por quê? Dê-me um exemplo de pessoa que você admira…)
Tenho muita curiosidade de saber o que está escrito nos livros,
(O que você já sabe, por onde gostaria de começar?)
Sinto-me muito bem estando próximo de D'us.
(me dê um exemplo de situação na qual você se sentiu confortável).
Essa pessoa continua mantendo sua identidade e seu humor.*
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