“Desde pequeno, Mayer Anschel Rothschild era uma pessoa esforçada e decidida. Começou trabalhando em um banco judeu de Frankfurt e, mais tarde, abriu um banco em seu próprio nome. Conquistou um bom nome por negociar sempre de forma honesta. O Príncipe Wilhelm o nomeou como seu Conselheiro de Finanças. Apesar de sua fortuna, Mayer, sua esposa e seus cinco filhos viviam em uma casa modesta.
Algum tempo depois começou a guerra. O Imperador Napoleão conseguiu muitas vitórias e seus exércitos chegaram a Frankfurt. Certa noite, o Príncipe Wilhelm veio procurar Mayer Anschel, vestido como um mendigo. Tinha acabado de escapar do campo de batalha e tentaria fugir. Mas antes queria pedir um grande favor ao seu amigo, pois era o único em quem ele realmente confiava. O príncipe havia conseguido salvar o ouro e prata do castelo, e pediu que Mayer guardasse até que pudesse voltar. Mayer Anschel, mesmo sabendo dos riscos, garantiu que faria todo o possível para guardar os tesouros. Havia na casa um porão secreto que Mayer Anschel ocultava sob o piso da sala, e ali ele guardou os tesouros.
Nos dias que se seguiram, os franceses ocuparam a cidade. Anunciaram uma grande recompensa para quem localizasse a fortuna real e um castigo severo se alguém a escondesse. A suspeita logo caiu sobre Mayer, o tesoureiro real. Sua casa foi cercada e uma busca completa foi feita, mas nada foi encontrado. O oficial encarregado, não satisfeito, prendeu Mayer Anschel sob acusação de traição e ameaçou matar todos os líderes da comunidade judaica de Frankfurt. Sob o choro incessante de sua esposa, Mayer Anschel aceitou revelar o esconderijo do tesouro real. Voltou para dentro de casa, dirigiu-se a um quadro grande na parede e tirou-o. Uma porta secreta foi revelada. Ele abriu a porta e um enorme cofre de ferro apareceu. Abriu-o, mostrando diversas prateleiras repletas de ouro. Disse que aquele era o tesouro que estavam procurando. Os soldados franceses, felizes, juntaram tudo e se foram. Mayer Anschel então chamou a mulher e os filhos e disse-lhes:
– Devemos agradecer a D'us por estarmos vivos. Um judeu deve sempre manter sua palavra. Prometi ao príncipe que guardaria sua fortuna, por isso entreguei a minha para salvar a dele. Quero que vocês saibam onde ela está escondida, para devolver. É D'us quem nos dá o dinheiro, e Ele nos ajudará a nos reerguer.
Mayer Anschel mostrou, sob as tábuas, onde ficava o esconderijo secreto. Enquanto isso, espalhou-se a notícia que a fortuna do príncipe havia sido encontrada pelos soldados franceses na casa dos Rothschild. Isso foi considerado um crédito para Mayer, pois o príncipe havia confiado nele a ponto de deixar a fortuna real aos seus cuidados. Assim, a empresa de Rothschild prosperou muito em todo o mundo.
Alguns anos se passaram e Napoleão sofreu pesadas derrotas. Vários países recuperaram a liberdade e os reis voltaram aos seus antigos governos. O Príncipe Wilhelm também voltou, e imediatamente convidou Mayer Anschel para visitá-lo. Mas Mayer Anschel tinha adoecido. Conseguiu jejuar no último Yom Kipur de sua vida e permaneceu na sinagoga durante todo o dia, mas no dia seguinte sentiu-se muito fraco. Faleceu na primeira noite de Sucót, aos 68 anos. Foi o filho mais velho que fez a viagem no lugar de seu querido pai. O príncipe entristeceu-se muito com a notícia da morte de seu grande amigo e disse:
– Não confiei em mais ninguém para cuidar da fortuna real. Sei que não foi culpa dele que encontraram o tesouro. A perda do tesouro não é nada, comparada à perda de meu querido amigo de confiança.
O jovem Rothschild, para a surpresa do príncipe, disse que a fortuna não estava perdida. Os franceses haviam levado a fortuna que pertencia aos Rotschild, pois Mayer tinha cumprido sua palavra até o fim. O príncipe quis dar parte da fortuna real para compensar as perdas financeiras, mas ele não aceitou, dizendo:
– Não se preocupe. D'us já nos compensou por nossa perda financeira”
Mayer Anschel Rothschild deixou aos filhos como herança não somente uma grande fortuna, mas algo muito mais valioso: um nome bom e honesto, e a Emuná (fé) de que D'us está no controle de tudo.
A Parashá desta semana, Ki Tavô, começa com um assunto muito interessante: a Mitzvá de Bikurim. As primícias (primeiras frutas) das 7 espécies da Terra de Israel (trigo, cevada, uva, figo, romã, azeitona e tâmara) precisavam ser trazidas ao Beit Hamikdash em uma cesta e entregues ao Cohen. Esta parece ser uma Mitzvá comum, sem uma importância maior. Porém, há um ensinamento surpreendente em um Midrash (Bereshit Rabá 1:6). O Midrash diz que as primeiras palavras da Torá, “Bereshit Bará Elokim” (No princípio D'us criou), têm outro significado, pois “Bereshit” significa “princípio”, mas “Reshit” também significa “Primícias”. O Midrash nos ensina que o mundo foi criado pelo mérito da Mitzvá de Bikurim. Afinal, o que há de tão especial nesta Mitzvá?
Responde o Rav Yaacov Neiman que um dos fundamentos do judaísmo é a Emuná (fé). Como isto se expressa na prática? Devemos saber que tudo, sem exceção, vem de D'us. Na teoria pode parecer fácil, mas na prática não é tão simples assim. Pode ser algo fácil quando observamos a natureza. Ao refletir um pouco sobre a perfeição de toda a criação, em cada mínimo detalhe, é possível perceber a mão de um exímio “Desenhista”. Como um belíssimo por do sol, que se repete todos os dias, pode ser um acaso? Como a perfeição do corpo humano pode ter vindo de uma explosão e mutações aleatórias? Assim, com um pouco de questionamentos lógicos e diretos, conseguimos chegar à certeza de que tudo foi planejado e executado por uma Força superior e perfeita, que tem pleno controle sobre todo o mundo.
Mas há algo mais difícil de internalizar para chegar a uma Emuná completa: que todos os atos que os seres humanos fazem também são direcionados e controlados pelo Criador. Por exemplo, a tendência natural é pensar que “todo meu sucesso é fruto do meu esforço e da minha inteligência”. Facilmente tiramos D'us da história e creditamos o sucesso aos nossos próprios esforços. Vivemos com a certeza de que nossos bens foram adquiridos através da nossa inteligência, talento e esforço. Parecem ser pensamentos inocentes, mas segundo a Torá, podem ser considerados até mesmo uma forma de idolatria, pois idolatria não é apenas se curvar diante de um ídolo feito de madeira ou pedra. Idolatria é atribuir forças a qualquer entidade fora D'us. Todas as forças e criaturas que existem no universo são parte Dele, criações Dele, e nenhuma entidade do universo, tanto físicas quanto espirituais, tem força própria. Isto significa que aquele que pensa que “todo meu sucesso é fruto do meu esforço e da minha inteligência” está atribuindo forças a si mesmo e, de certa maneira, está cometendo idolatria.
Para chegar à Emuná verdadeira, a pessoa deve se esforçar para entender e internalizar que todo ato que aparentemente ela está fazendo com a sua própria força, na verdade está sendo feito com a força de D'us. O ser humano não tem nenhuma força própria, ele não pode fazer nada se D'us não estiver constantemente mandando energia para ele. É como se estivéssemos conectados a D'us através de um fio, por onde recebemos, a cada instante, a energia necessária até mesmo para levantar um dedo.
Este conceito pode ser bem enxergado no início da Parashá da semana passada, Ki Tetse, que começa com as seguintes palavras: “Quando você sair para a guerra com os seus inimigos” (Devarim 21:10). Quando pensamos em preparação para a guerra, a primeira coisa que nos vêm à cabeça é a necessidade de uma grande quantidade de soldados, armamentos e equipamentos de apoio. Mas como continua o versículo? “E Hashem, teu D'us, os entregará em tua mão”. Esta é a visão correta das coisas. Não são as armas, nem o exército, nem as estratégias que vencem uma guerra, e sim a mão de D'us.
É pela grande importância da Emuná em nossas vidas que o Midrash ressalta tanto a importância da Mitzvá de Bikurim. Quando a pessoa ara seu campo, semeia, colhe e traz para casa sua colheita, qual a primeira impressão que fica? Que todo o sucesso na colheita foi resultado do seu esforço. Então como a Mitzvá de Bikurim ajuda no reforço da Emuná? A pessoa, além de trazer suas primícias ao Cohen, precisava pronunciar um discurso no qual consta a seguinte afirmação: “E agora eu trouxe as primícias da terra que D'us me deu” (Devarim 26:10). Quando a pessoa pronuncia “D'us me deu”, ela reconhece e internaliza a ideia de que todo o sucesso que ela teve na sua colheita não foi resultado do seu esforço, e sim uma grande bondade de D'us, o verdadeiro Dono de tudo.
Em menos de 2 semanas será Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico. A essência de Rosh Hashaná é fazer de D'us um Melech (Rei). O Talmud (Rosh Hashaná 17a) enfatiza este ponto com as seguintes palavras: “Digam Malchuiót diante de Mim para que vocês Me coloquem como um Rei sobre vocês”. O que significa, na prática, fazer de D'us um Rei sobre nós?
Não é suficiente a pessoa saber que D'us é o Criador do mundo. Fazer de D'us um Rei sobre nós significa tê-Lo como um Rei em nossas vidas, de maneira que isto influencie cada ato que fazemos. D'us declarou Sua vontade através da Torá, e todas as vezes em que desprezamos Suas Mitzvót, é como se estivéssemos nos rebelando contra o Seu reinado. Ao contrário, quando nos comportamos de acordo com os Seus ensinamentos, estamos declarando que Ele é o Rei sobre nossas vidas. E esta é a maneira de passar no julgamento de Rosh Hashaná: mostrar para D'us que queremos que Ele esteja ativamente presente em nossas vidas, em nossas famílias, no nosso trabalho e nos nossos momentos de lazer.
Que possamos canalizar a força que D'us nos dá a cada instante para que possamos fazer apenas o bem, e assim possamos ser inscritos para um ano de muitas Brachót (Bênçãos).
“SHETICATEV VETECHATEM BESSEFER CHAIM TOVIM” (QUE SEJAMOS INSCRITOS E SELADOS NO LIVRO DA VIDA).
SHABAT SHALOM
R' Efraim Birbojm