Nesta parashá encontramos, entre outros, o relato sobre o corban (oferenda) chamado de Asham Taluy. Este corban era trazido, quando alguém está em dúvida se cometeu ou não algum pecado, que tenha, como conseqüência, o castigo de Caret.
Caret é a morte espiritual, relacionada com a alma. Os exemplos mais comuns da aplicação deste castigo são os de quem come chamets em Pêssach, quem não jejua em Yom Kipur e quem mantém relações conjugais com sua esposa antes de ela puruficar-se nas águas do micvê.
Enquanto o indivíduo não tiver certeza de que cometeu este tipo de pecado, o Corban Asham Taluy irá protegê-lo. Porém, uma vez que se certifique da transgressão, deverá trazer a oferenda referente a quem pecou sem intenção – o Cor-ban Chatat.
Sobre o Corban Asham Taluy, o Rashi traz o exemplo de alguém que tinha perante si o shuman(gordura) e o chêlev (sebo).
O primeiro é permitido pela Torá e o segundo, não. Quem comesse chêlev seria castigado com caret. Caso o indivíduo estivesse em dúvida se comeu o shuman ou o chêlev, pois são muito parecidos, deveria trazer o Corban Asham Taluy.
Ramban nos chama a atenção para o fato de que o valor despendido para o Corban Asham Taluy – oferecido no caso de dúvida de pecado – era maior do que o do Corban Chatat – trazido quando havia certeza do pecado. O Ramban explica, que uma vez que o indivíduo não tenha a certeza de ter pecado, poderia ficar com a impressão de não ter cometido nenhuma infração. No entanto, a Torá não admite este pensamento, obrigando-o a trazer um corban de valor ainda maior que o Chatat, para que percebesse seu erro.
Para entendermos melhor este ponto de vista, basta nos lembrarmos de um trecho do livro “Chovot Halevavot” no Shaar Hateshuvá, do Rabino Bachyê, onde constam algumas condições necessárias para se atingir a teshuvá (o arrependimento com retorno às origens). Entre estas condições está a de reconhecer o erro cometido e o quanto é reprovável. Vemos, portanto, a importância do reconhecimento do pecado. Sem admitirmos que pecamos, não há a possibilidade de que o processo da teshuvá tenha início. Enquanto o pecado passar desapercebido, nós não sentiremos necessidade de nos redimir.
Este é o motivo por que a Torá foi mais rígida no Corban Asham Taluy; para não presumirmos que não pecamos, o que dificultaria o processo de teshuvá.
Como é possível que nossos erros sejam apagados por meio da teshuvá?
Nos livros do Maharal de Praga, encontramos a resposta a esta pergunta. Ele diz que da mesma forma que o ser humano não é absoluto, assim também não o são seus atos. Já que o ser humano é constituído de um corpo físico que sofre oscilações, seus atos não são absolutos e podem ser apagados mediante a teshuvá.
Conforme nos esclarece o Rambam (Maimônides) em Hilchot Teshuvá, são três os ítens básicos para que a teshuvá seja aceita pelo Todo-Poderoso:
a) Abandonar o pecado na prática e não mais pensar sobre ele.
b) Arrepender-se por ter cometido o pecado.
c) Desculpar-se perante o Todo-Poderoso por intermédio da recitação do Viduy.
A teshuvá deve, portanto, ser completa, firme e constante para que nossos pecados sejam apagados.
Baseado no livro Alê Shur vol. I
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