Uma das frases mais triviais e elementares do Judaísmo, consta na nossa parashá, parashat Kedoshim (Vaikrá 19:18): ” veahavtá lereachá camocha – ame a seu companheiro como a ti mesmo”. Na mente de muitos, é conhecido como um bom slogan, no qual as paredes devem ser decoradas. De fato, é uma mitsvá que exige que cada pessoa observe-a, tão quanto observar o Shabat, colocar Tefilin, tomar um lulav em Sucot ou comer a matsá em Pessach.
À luz da existência dessa mitsvá, surge uma questão fundamental: como é possível que a Torá nos ordena amar aos outros? O amor é um sentimento que vem do coração e está enraizado no sentimento interior. Se sim, como alguém pode alcançar o amor de outra pessoa de acordo com a mitsvá ordenada acima? Além disso, a Torá exige amar o companheiro “como você”, como você ama a si mesmo, e o homem está perto de si mesmo, e se assim for como alguém pode exigir que o homem ame os outros como ele ama a si mesmo?
A resposta para isso é encontrada no Tratado Derech Eretz: “Se você deseja aderir-se ao amor de seu amigo, procure ajudá-lo para o bem dele “. Aqui reside a chave para a relação recíproca entre ações e emoções no reino do amor entre amigos e companheiros. É importante fazer cada vez mais pelos outros. Caso a pessoa persistir em fazer o bem para os outros, o sentimento de carinho e amor, virá no final.
Esta elevada tarefa de amar os outros é levada a cabo gradualmente, a partir do reconhecimento da alma humana e da compreensão das dificuldades que se lhe colocam. A Torá determina fases, etapas e degraus para subir nessa escada. O amor ao próximo, não é uma mitsvá que está de pé por si só, e sim é o auge dos sistema dos preceitos e das mitsvot entre o homem e seu companheiro. Ou seja, há uma subida gradual no sistema de mandamentos entre o homem e seu companheiro.
Consta na Torá (Vaikrá 19:3) :” ish imo veaviv tirau – que o homem tenha temor de sua mãe e de seu pai”. Esta mitsvá, é de consenso de todos os seres humanos, que cda um e um deve tratar e cuidar com respeito de seus pais. Outras mitsvót constam na Torá, mesmo sendo óbvias que devem ser cumpridas, como por exemplo, dar tsedacá aos pobres, não roubar, não enganar e etc…
Depois de mencionar todas estas mitsvót, quando a Torá menciona a trilha que levará a pessoa ao auge das relações sociais: não odiar aos irmãos no coração, mitsvá que nos ordena aniquilar totalmente o ódio dos corações, não vingar e nem guardar rancores. A pessoa que alcança os passos seguintes, subindo gradualmente, poderá cumprir a mitsvá de ” veahavtá lereachá camocha – ame a seu companheiro como a ti mesmo”.
O trabalho árduo para aperfeiçoar as virtudes, é como subir a escada passando e dominando cada degrau. De fato, é somente dessa maneira que a pessoa pode prosseguir.
A regra “Ame…” vem explicar por que alguém deveria amá-lo – porque ele é “seu companheiro, como você”, ambos pertencem ao mesmo povo. O povo de Israel é como uma alma dividida em vários pedaços. Cada fragmento existe no corpo de outra pessoa, mas a alma comum exige que cada um de nós ame outro.
Os Sábios ilustram a ordem de amar os outros “como você” por meio de uma parábola sobre uma pessoa que está segurando uma faca na mão direita e cortando carne. Em um momento de distração, ela feriu a mão esquerda. É concebível que a mão esquerda ferida retorne à mão direita para vingar e devolver esta ferida!?! Mesmo que a mão esquerda esteja sangrando como resultado da atividade da mão direita, ela não se vingará, já que ambas as mãos pertencem à mesma pessoa. Este é também o caso nas relações de uma sociedade normal.
Sobre o passuk (Vaikrá 19:18): ” veahavtá lereachá camocha ani Hashem – ame a seu companheiro como a ti mesmo, EU sou D'us”, ensinou nosso grande sábio e mestre, Rabi Akiva: “Esta é uma grande regra na Torá.”
Apegando-se à conclusão do passuk, “Eu sou D'us”, dá-lhe a sua validade prática e transmite-a de um slogan ideológico para caminhos práticos capazes de gerar grandeza na relação entre as pessoas.
O significado dessa mitsvá é que primeiro de tudo, a pessoa deve mudar sua visão sobre o mundo. Ao invés de que a pessoa coloque-se no centro de tudo, ele deve colocar D'us no centro de tudo.
O denominador comum entre todos os seres humanos é que todos são criados à imagem Divina.
Esse denominador comum é um fator central no amor à verdade que deve prevalecer entre eles.
A relação entre o homem e seu próximo é, além da importância, uma chave para o relacionamento entre o homem e seu Criador (D'us). Nós aprendemos isso a partir das palavras de Hillel, que disse ao gentio que veio se converter quando este queria aprender a Torá apoiando-se em um pé só, ou seja, sobre um pilar básico que através dele a pessoa possa seguir cumprindo toda a Torá!!! E assim lhe disse Hilel: “o que você não gosta que façam contigo, não faça com seu amigo!!!”. Hillel queria ensinar-lhe, que o modo no qual a pessoa se relaciona com os outros, constitui uma chave para toda a atitude do homem em relação ao seu criador.
A Torá nos ordena a seguir os caminhos do Criador e a nos esforçar para adquirir Suas virtudes.
Uma das virtudes Divinas, é a o chessed (bondade, benevolência), uma vez que toda a criação e manutenção do mundo é puro e simples chessed Divino. O equilíbrio desejado é aquele no qual a virtude de chessed (bondade, benevolência) dominará para que sempre seja feito o bem aos outros, e a virtude de receber tais bondades é subordinada e secundária ao chessed, para que a pessoa possa receber o necessário para manter uma vida normal e digna.
A execução perfeita desta tarefa é muito difícil. A pessoa não pode mudar sua personalidade, com o toque de um botão. Somente pessoas muito elevadas alcançaram pleno sucesso neste campo, mas o progresso na direção certa está ao alcance de cada pessoa, e parece que, de fato, a Torá nos ordenou eta mitsvá, com este fim: “ame a seu companheiro como a ti mesmo”.
O cumprimento dessa mitsvá é difícil no primeiro estágio, mas toda pessoa é capaz e obrigada a começar com ela. Ele deve se abster de fazer coisas que são odiadas por seu amigo e que D'us nos livre, possam prejudicá-lo. aquele que mantém a existência consistente de tais coisas, treina e exercita o poder de dar aos outros. Essa força aumenta à medida que “os músculos” se desenvolvem, ativando-os. À medida que o poder de dar aumenta, o homem ficava cada vez mais alerta para os outros.
Quando Hillel procurou um pilar que seja a base para todos os ensinamentos da Torá, não encontrou nada mais forte do que o amor ao próximo. Isso inclui colocar limites ao egoísmo humano e, portanto, é a base para a construção de uma personalidade amorosa perfeita.
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