Shemaiah e Avtalyon foram o quarto par de chachamim que liderou o Sanhedrin. Eles eram conversos, descendentes de Sancheriv, rei da Assíria, que subiu à Jerusalém nos dias do profeta Yechezkel, rei de Yehudá. E, no entanto, apesar de não terem tradição familiar, eles cresceram tanto, até serem nomeados para liderar o povo e ensinar a Torá em público.
A força espiritual da Torá eleva seus estudantes, o estudo da Torá não tem quaisquer pré-condições de aceitação ou privilégio para os que tem “tradição familiar”. São apenas as ações do homem, seu trabalho, seu alcance e seus esforços para alcançar a verdade que determinam sua classificação. A coroa da Torá fica em um canto, e todos que desejam-a, podem vir pegá-la.
O Talmud (Yomá 71b) traz um ato que certa vez o sumo sacerdote estava voltando para sua casa após Yom Kipur, acompanhado por várias pessoas. Quando os acompanhantes viram a Shmaya e a Avtalion, deixaram o Sumo Sacerdote e se viraram para acompanhá-los. Quando Shmaya e Avtalyon vieram despedir-se do Sumo Sacerdote, ele disse-lhes: “Que venham (aqueles que vieram dos povos das outras) nações, estejam com a paz”. Nisto, ele insinuou para eles que eles não mereceram a grande honra que receberam, pois são conversos descendentes de Sancheriv.
Eles responderam: “Que a paz esteja com os descendentes dos povos das outras nações, que estão se comportando de acordo com os ensinamentos de Aharon Hacohen que sempre buscava a paz, e que não venha a paz ao filho de Aharon, que não se comporta de acordo com os ensinamentos de Aharon”. Nós somos de origem inferior, mas tentamos ser discípulos de Aharon, que era um homem amoroso de paz e adora pessoas. Por outro lado, mesmo que você seja descendente do sacerdote Aharon, não se comportou no caminho de seu antepassado, que fez a paz e a fraternidade entre as pessoas.
O Tana orienta o homem para preferir o próprio esforço, mais do que cargos superiores, cujo exterior é brilhante e atraente, mas no seu interior existe somente disputas internas, problemas e preocupações.
Não é a posição ou o trabalho que “faz a pessoa”, mas sim a devoção da pessoa ao seu trabalho e cargo.
Goste do trabalho
Uma pessoa deve escolher para uma profissão leve e limpa que o fará viver dignamente. Se ele gosta do trabalho, ele vai curtir sua vida e ele vai desfrutar de uma vida pacífica e calma. A maioria das reivindicações e processos no mundo são sobre leis financeiras. Uma profissão leve e limpa liberta o homem de qualquer conexão com o sistema judicial, de todas as suas pressões e prejuízos.
D'us criou seu mundo e deixou o homem com um lugar para desenvolvê-lo e aperfeiçoá-lo. Nenhum trabalho despreza seus trabalhadores: costureiro, vidraceiro, ferreiro, encanador, qualquer um deles, contribui para a colonização do mundo e cumpre a vontade Divina na criação.
Na verdade, devemos ter em mente e não devemos esquecer, que o valor supremo é o estudo da Torá, e ninguém está isento disso. Embora nossos sábios ensinam que se envolver em meios de subsistência não contradiz a importância do estudo, cada pessoa pode e deve medir de acordo com seu nível espiritual e consultar com seus rabinos quanto tempo é necessário para garantir seu sustento, e o resto do dia estará disponível para desenvolver e enriquecer a alma na Torá e em Tefilá.
A Mishná não diz: “Sustente-se com o trabalho” ou “Estude uma profissão “, mas sim “Goste do trabalho”, veja-o como um valor elevado que deve ser respeitado.
As palavras da Mishná são direcionadas à pessoa que já está envolvida no trabalho, que não trate-o como um peso na consciência, como um peso que ele está ansioso para se livrar. A pessoa deve encarar seu envolvimento com o trabalho, como um conceito de alto nível.
A ociosidade é a mãe de todo pecado. Uma pessoa que não está ocupada, fica aborrecida e acaba tentando “matar” seu tempo livre de várias maneiras que levará à deterioração espiritual.
Neste artigo, alcançamos um ponto muito, muito significativo. Como e por quanto tempo uma pessoa deve se dedicar ao estudo da Torá? A pessoa que se dedica ao estudo da Torá, como seria seu sustento? Por outro lado, uma pessoa que não se dedica ao estudo da Torá, será que ele não atribui a importância adequada ao estudo da Torá? Isso significa que a pessoa não confie em que D'us o sustentará?
Uma antiga discussão sobre este assunto, é trazida no Talmud (Brachot 35b). A discussão é entre Rabi Yshmael e Rabi Shimon Bar Yochai.
Estudaram Chachamim: Está escrito na Torá (Dvarim 11:14) :”E você colherá seu cereal “. O que o Talmud quis dizer com isso? No profeta está escrito: (Yehoshua 1:8) “Que este livro de Torá não deixe sua boca”, ou seja, sempre esteja ocupado com a Torá. Será que realmente é assim? que a pessoa deve somente estudar Torá o tempo inteiro? Ensina a Torá “E você colherá seu cereal “. acostume a se comportar como as pessoas comuns se comportam. Estas são as palavras de Rabi Yshmael.
O Rabi Shimon ben Yochai diz: Uma pessoa pode arar no momento do arado e semear no momento da semeadura e encurtar durante a colheita, e a Torá como ficará? Se todos fizerem todos estes atos, cada um em seu devido momento, quem e como estudarão Torá?
A resposta é que quando o povo de Israel cumprir a vontade de D'us, tudo o que necessitam será feito pelos outros, como consta no profeta (Yeshaiahu 50: 5): “E estrangeiros levantarão e pastorearão seu rebanho”. E, quando o povo de Israel não cumpre a vontade de D'us tudo o que necessitam é feito por eles próprios, como está escrito: “E você colherá seu cereal “. E além disso, as necessidades dos outros , são feitas por aquele que não cumpre a vontade Divina, como consta na Torá (Devarim 28:28): “E você servirá seus inimigos”.
Rabi Shimon Bar Yochai segue a linha dos Sábios que mantêm a abordagem de que todos os negócios do homem devem estar exclusivamente na Torá, sem tempo para se envolver no trabalho. Se uma pessoa faz a vontade de D'us, Ele cuidará de todas as suas necessidades. No entanto, o Talmud continua: “Abayê disse: Muitos fizeram como Rabi Yishmael e tiveram sucesso, como o Rabi Shimon ben Yochai – e não tiveram sucesso, em outras palavras, o Talmud diz que, embora muitos tentassem seguir os passos de Rabi Shimon bar Yochai, não conseguiram.
Rambam (Hilchot Talmud Torá 3:10-11) escreveu que a pessoa deve trabalhar para seu sustento, e essas são suas palavras: “Qualquer um que observe seu coração que ele deve se envolver na Torá e não fazer trabalho e ganhar a vida com a caridade, profanou o nome de D'us, envergonhou a Torá e extinguiu a luz da religião, causou um máu para si mesmo e tirou sua vida do mundo vindouro. É proibido ter proveito da Torá neste mundo. Escreveram Chachamim, toda pessoa que tem proveito da Torá, tirou sua vida do mundo. E ainda mais eles disseram: “Não faça a Torá como uma coroa para que você se enalteça, e nem use-a como um machado para cavar…”, qualquer Torá com a qual não há trabalho terminará na ociosidade e o fim desse homem será que furtará as pessoas.
O Shulchan Aruch (Orach Chaim 156:1) escreveu que a halachá segue a opinião do Rambam.
Até agora, apresentamos a opinião daqueles que dedicam boa parte do dia ao trabalho, e vimos que a opinião destas pessoas é baseada na halachá.
Agora nos concentraremos no opinião daqueles que o estudo da Torá é um modo e estilo de vida, e já estamos à frente das palavras do próprio Rambam (Hilchot Shmitá e Yovel 13:12-13), que apesar de suas observações penetrantes (Hilchot Talmud Torá 3:10-11) sobre a importância do trabalho, ele excluiu da obrigação de trabalhar, todos aqueles que se dedicam ao serviço Divino e ao estudo de sua Torá.
“Por que, a tribo de Levi não ganhou a herança da terra de Israel e seu tesouros junto com seus irmãos? Porque ele foi separado para servir a D'us e instruir seus caminhos justos e seus juízos justos a muitos, como esta escrito (Devarim 33:10):”Ensinarão suas leis a Yaacov e sua Torá a Israel”.
Portanto, foram separados dos comportamentos comuns das pessoas no mundo. Não participam das guerras…não herdam a terra de Israel, eles são os soldados de D'us, como está escrito (Devarim 33:11) “D'us abençoou seu batalhão”. Além disso os Leviím tem o grande mérito que D'us lhes disse (Bamidbar 18:20) “Eu sou sua porção e sua herança.”
E não só a tribo de Levi, mas todo homem dentre todas as pessoas do mundo, cujo espírito foi dado a ele e entendido por seu conhecimento para diferenciar-se, servindo a D'us para ter mais conhecimento Dele, e desmontou dele o julgo de todas as obrigações que as pessoas estão obrigadas a cumprir, foi santificado pela santidade das santidades.
E deste modo D'us será sua parte e sua herança para todo o sempre , e D'us lhe concederá tudo o que necessita, do mesmo modo que mereciam os sacerdotes e os leviím.
Rabi Yisrael Meir Hacohen (Biur Halachá sobre o Shulchan Aruch 196:1) interpreta as palavras do Shulchan Aruch, de acordo com a segunda fonte do Rambam, sem que seja uma contradição ao dito antes. Isto que está escrito que a pessoa que não tem trabalho e fonte externa de sustento que no final trará a ociosidade e o pecado, é uma orientação geral para a maioria do povo, porém poucas e especiais pessoas mesmo vivendo deste modo, não chegarão á ociosidade e ao pecado, como consta no Talmud (Brachot 35b), em nome de Rabi Shimon Bar Yochai. À estas pessoas, com certeza D'us sustentará para que possam se dedicar totalmente ao estudo da Torá. Isto é conforme as palavras do próprio Rambam, em Mishnê Torá (Hilchot Shemitá veyovel 13:13-14).
Segundo esta explicação, a pessoa que prefere se dedicar ao estudo da Torá, deixando de trabalhar e confiando em D'us que Ele lhe concederá tudo o que necessita, está em nível muito elevado de espiritualidade e proximidade a D'us.
Porém, a pessoa que se comporta como a opinião de Rabi Yishmael, será que está mais distante de D'us?
A resposta é que não!!!!
Pois como o citado antes, o próprio Talmud trouxe que muitas pessoas fizeram como Rabi Yshmael, e cumpriram sua missão, e muitos fizeram como Rabi Shimon Bar Yochai e não cumpriram sua missão. Muitos não conseguiram, mas pocos sim. Aueles que não conseguiram como Rabi Shimon bar Yochai ou que conseguiram como Rabi Yshmael, cumprem sua missão no serviço Divino, mesmo não dedicando-se integralmente ao estudo da Torá.
Cada um tem sua função no serviço Divino. Uma sociedade precisa de vários tipos de profissões para que hajam todos os tipos de serviços e estruturas para que a sociedade funcione normativamente.
Porém, quanto mais estivermos conectados com a Torá, nossa vida será mais espiritual, pois quanto mais a Torá influência em nossas vidas, mais estaremos proximos de Hashem.
Deste modo, aquele que estuda Torá como estilo de vida, abstendo-se de várias comodidades materiais, está mais próximo de Hashem, não porque cumpre sua função mais do que os outros, mas sim porque na prática está mais conectado à Torá do que aquele que não vive neste estilo.
Então, a pessoa que sua função no serviço Divino é de se esforçar para conseguir seu sustento, como ele pode estar conectado com a Torá como aquele que se dedica integralmente à Torá?
Acordo Issachar e Zevulun
Devarim 33:18
“Fique feliz Zevulun em sua saída e Issaschar em sua tenda”.
A explicação deste passuk é que Zevulun é o trabalhador que sai para buscar sustento, e Issaschar é o estudante da Torá que está dentro do Beit Midrash, a tenda da Torá. Zevulun, que é aquele que trabalha, é mencionado antes de Issaschar.
No livro Yalkut Meam Loez sobre o escrito na parashat Vaiechi (Bereshit 49:13-15), escreve o seguinte:
“Por que Yaacov abençoou a Zevulun antes de Issaschar (e Moshe abençoou a tribo de Zevulun antes da tribo de Issachar), uma vez que Issaschar era mais velho que seu irmão Zevulun ?
A razão é que Issaschar e Zevulun eram dois sócios próximos, com a condição que Issaschar se sentasse e se envolvesse no estudo da Torá dia e noite, sem envolver-se envolveria em nenhum trabalho, e Zevulun se dedicava ao comércio e ia ao mar. E o que Zevulun ganhava era dividido com seu irmão Issaschar. Uma vez que Zevulun possibilitou que Issaschar pudesse se dedicar ao estudo da Torá, Zevulun foi abençoado antes de Issaschar. Moshe também antecipou a benção de Zevulun à benção de Issaschar, dizendo-lhe, fique feliz Zevulun que você está saindo para trabalhar, pois você tem um ótimo fundo de investimento que é seu irmão Issaschar que se dedica integralmente ao estudo da Torá.
A conclusão de tudo isto é que o povo de Israel sempre teve dois estilos de conduta: aqueles que dedicam todo o seu tempo, energia e forças apenas para lidar com a Torá, e aqueles que estudam a Torá, mas também fazem por onde para ter seu próprio sustento.
Estes dois estilos, são aceitos e têm uma fonte dentro da lei judaica. No entanto, há uma grande mitzvá nas mãos daqueles que ganham dinheiro como resultado de seu trabalho, para apoiar aqueles que estudam a Torá e, assim, também poderão preservar e fortalecer a Torá entre os judeus e a eterna recompensa espiritual. Que todos nós sejam ordenados a recitar o versículo que diz (Tehilim 111: 74): “Uma grande paz para aqueles que amam sua Torá”.
Pergunta
O que ganha aquele que está apoiando o estudioso da Torá no acordo de “Issachar e Zevulun”?
Resposta
Os Rishonim e os Acharonim, escrevem que aqueles que apoiam e sustentam os estudiosos da Torá são considerados como se eles prórprios tivessem estudando a Torá como os que se dedicam à ela integralmente. A Torá protegê-os das tribulações e sofrimentos, e salvá-lo do pecado.
Seguro dos navios de Baltimore
O Rabino Zalman Rotberg Zts”l, discípulo do Rabino Shimon Shkop Zts”l, contou a seguinte estória, que escutou de quem participou do caso citado: “Um judeu rico de Baltimore adquiriu, durante a expansão de seu extenso negócio, toda uma frota de navios. Os especialistas recomendaram que ele assegure a frota de navios em um abrangente seguro, incluindo compensações em casos de desastres naturais, naufrágios e danos causados pelo oceano. O homem consultou, investigou e exigiu que ele realmente precisava urgentemente de um seguro para seus navios caros “.
“O homem rico se voltou para um grande estudioso, entregou-lhe uma grande quantia de dinheiro e pediu-lhe para montar kollel de 20 estudantes de yeshiva.” Todo estudante de yeshiva no kollel receberá uma bela bolsa de estudos e cumprirei todas as suas necessidades em um acordo com o pacto entre Issaschar e Zevulun. Passaram alguns dias e passaram alguns meses, e um dia eles disseram ao homem que um de seus navios estava em perigo. “O navio encontrou-se em uma pista bloqueada. Toda a área está cercada por uma avalanche e provavelmente será capaz de “dizer Kaddish” neste navio, disse ele seu filho, que supervisionou o negócio de transporte comercial que ele possuía. O rico pegou seu terno e seu chapéu, e foi a caminho do kollel que era sustentado por sua doação.
Os estudantes do kollel, estavam se preparando para rezar minchá e, quando o viram, imediatamente o rodearam-o com amor e calor humano, apertando as mãos e sorrindo para ele com sorrisos gratos. Ele começou, a falar sem fazer “peças de teatro a ninguém”. Um dos meus navios está em uma situação difícil e tenho a sensação de que, na semana passada, o estudo não foi tão dedicado e sem interrupções, como deveria ser. Estou certo ?! “
“Os alunos se entreolharam, sussurraram entre si, e um deles disse com coragem:” Sim, há algo nisso “. Os estudantes da yeshiva baixaram a cabeça, consultaram entre si novamente e anunciaram solenemente ao seu, “benfeitor financeiro”, que voltariam ao estudo da Torá de modo constante e assíduo. Depois de algumas horas, a máquina de fax de Kollel expeliu uma folha de papel que incluía a seguinte linha curta, escrita na caligrafia do rico: “Graças a D'us, o navio foi salvo do vórtice e tudo está bem com isso, graças a vocês”.
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