“O Rav Fischel Schachter conta a história de uma mulher, sobrevivente do Holocausto, que se estabeleceu nos Estados Unidos depois da guerra. Ela se casou, mas doze anos se passaram e ela não conseguia ter filhos. Certo dia, sentada em um consultório médico na Madison Avenue, em Manhattan, ela escutou algo que a abalou profundamente. O médico, um grande especialista em fertilização, disse após revisar seus exames:
– Senhora, vou dizer algo duro, mas que é para o seu bem. Acho que você deveria desistir. Medicamente falando, não há mais nada que possamos fazer. É mais fácil crescer cabelo na palma da minha mão do que você ter um filho.
A mulher saiu de lá completamente arrasada. Ela entrou em um ônibus na Madison Avenue e, durante o trajeto, foi relembrando de detalhes da sua vida. Recordou os horrores que passou ainda jovem na Polônia, quando perdeu todos os parentes, arrastados de casa e assassinados pelos nazistas diante dos seus olhos. Quando ela chegou aos Estados Unidos, completamente sozinha, ela queria desesperadamente começar uma nova família. Porém, depois de doze longos anos, suas esperanças estavam despedaçadas. Ela não tinha nem mesmo vontade de descer do ônibus, queria ficar ali para sempre. Ficou dando voltas pela cidade o dia inteiro, perdida em seus pensamentos. Finalmente, já tarde da noite, o motorista informou que já estava voltando para a garagem e que ela precisava descer do ônibus. A mulher disse, em voz baixa, que não queria descer, pois não tinha mais razão para viver. O motorista, já estressado após um longo dia de trabalho, disse:
– Escute, senhora. Eu tive um dia duro, estou cansado. Eu não sei qual é o seu problema, mas certamente você não vai resolvê-lo ficando aqui neste ônibus.
Cabisbaixa e envergonhada, ela desceu do ônibus e começou a caminhar. De repente ela parou e, com os olhos cheios de lágrimas, olhou para o céu e disse:
– D'us, Você sempre esteve comigo o tempo todo. Você salvou minha vida inúmeras vezes. Você me trouxe até aqui e me permitiu recomeçar a minha vida. Está tudo em Suas mãos, e eu sei que não tenho o direito de desistir. O motorista do ônibus está certo, Você não salvou minha vida para eu viver no ônibus da Madison Avenue. Por favor, me diga o que fazer. Eu não vou desistir. Vou continuar Te servindo, D'us, não importa o que aconteça.
Um ano depois ela milagrosamente teve um filho. E muito tempo depois, no momento em que faleceu, ela havia deixado no mundo bisnetos suficientes para fazer o cabelo daquele médico da Madison Avenue ficar de pé”.
O Rav Fischel Schachter, quando conta esta história, afirma que ouviu tudo diretamente da boca desta mulher, que ele conhecia muito bem. Era sua própria mãe, e ele é aquele bebê milagroso. Ele conta esta história como um ensinamento de que devemos sempre confiar em D'us, não importa o quanto algo possa parecer impossível.
Nesta semana lemos a Parashat Va'era, que começa a descrever algumas das dez pragas com as quais D'us castigou os egípcios e que culminaram com a libertação do povo judeu de mais de dois séculos de escravidão. Mas se pararmos para refletir sobre estas dez pragas, surge uma grande pergunta. Sabemos que se D'us quisesse, uma única praga teria sido suficiente para quebrar a arrogância e a obstinação do Faraó. Bastaria D'us ter aumentado a intensidade ou a duração de qualquer uma das pragas até o ponto em que o Faraó não pudesse mais suportar. Então por que D'us mandou dez pragas, além de tantos outros milagres e sinais que Ele fez diante dos olhos dos egípcios?
Respondem os nossos sábios que realmente D'us não precisava ter feito tantos milagres, mas um dos motivos pelos quais Ele fez foi para responder um questionamento do Faraó. Quando Moshé foi, em nome de D'us, pedir ao Faraó para que ele libertasse o povo judeu, o Faraó respondeu: “Quem é D'us, para que eu escute Sua voz e envie o povo de Israel? Não conheço D'us” (Shemot 5:2). Foi por isso que D'us mandou as dez pragas e outros tantos milagres, para mostrar ao Faraó quem Ele era e qual era o tamanho da Sua força. Foi uma forma de divulgar o poder e o controle que D'us tem sobre o mundo, como está escrito: “Pois agora Eu poderia ter estendido Minha mão e golpeado você (Faraó) e seu povo com a peste, e vocês seriam exterminados da terra. Mas por causa disso Eu te fiz aguentar, para te mostrar a Minha força e para que Meu Nome seja declarado sobre toda a terra” (Shemot 9:15).
Explica o Rav Yaacov Kanievsky zt”l (Ucrânia, 1899 – Israel, 1985), mais conhecido como Steipler, que a praga do sangue demonstrou o controle de D'us sobre as águas, em especial pelo fato da água dos egípcios ter se transformado em sangue, enquanto a água dos judeu ter continuado normal. Na praga dos sapos D'us demonstrou Seu controle sobre as criaturas que vivem na água, e os sapos somente incomodaram os egípcios. Com a praga das feras selvagens D'us demonstrou Seu controle também sobre os animais da terra, que somente atacaram egípcios. Na praga dos gafanhotos D'us demonstrou Seu controle sobre todas as criaturas que voam, além de demonstrar o controle dos ventos, pois os gafanhotos foram trazidos através de um forte vento leste, e foram removidos com um forte vento oeste. O mais interessante é que nenhuma destas pragas atingiu os judeus, apesar deles viveram na cidade de Goshen e serem vizinhos dos egípcios, demonstrando que D'us controla com Supervisão Particular e detalhada até mesmo o que acontece com cada gafanhoto do mundo.
Mas as lições de D'us não pararam por aí. Com a peste que atingiu os animais egípcios, D'us demonstrou o controle sobre a vida de todos os animais, e nenhum animal dos judeus foi atingido. Com a praga da morte dos primogênitos D'us demonstrou que controla também a vida dos seres humanos, pois entre os egípcios apenas os primogênitos morreram, e todos ao mesmo tempo, conforme Moshé havia advertido o Faraó, enquanto nenhum primogênito judeu morreu. Na praga dos piolhos D'us demonstrou o controle sobre a terra, pois o pó da terra se transformou em piolhos, e eles atacaram apenas os egípcios.
O Faraó também aprendeu, de maneira dolorosa, o controle de D'us em outras áreas. A praga da sarna demonstrou o controle de D'us sobre a saúde e as doenças que afligem o ser humano, pois enquanto os egípcios sofreram na pele a praga da sarna, os judeus não foram atingidos. Na praga da escuridão D'us demonstrou que é Ele quem ilumina o mundo, e apenas pelo Seu decreto que os corpos celestes iluminam a Terra. A mesma luz que iluminava os judeus em Goshen não chegava aos egípcios, que estavam imersos na escuridão. E finalmente a praga do granizo demonstrou o controle de D'us sobre as chuvas, o granizo e o fogo. Esta praga demonstrou que as chuvas não são apenas um fenômeno que ocorre por forças da natureza, e sim pelo decreto de D'us. E é apenas a vontade de D'us que pode transformar a chuva em granizo, e que pode fazer a “paz” entre a água e o fogo, dois elementos que normalmente se anulam, mas que se uniram nesta praga para cumprir o decreto de D'us.
O Faraó questionou quem é D'us e até onde chega Sua força, e D'us respondeu de forma detalhada. Até mesmo no momento em que o povo judeu saiu do Egito, outro milagre demonstrou Sua força e Seu poder. D'us ordenou aos judeus que pedissem aos seus vizinhos egípcios objetos de ouro, de prata e roupas finas. Os egípcios deveriam estar odiando os judeus com todas as suas forças, pois sabiam que era por causa dos judeus que eles estavam sofrendo de maneira tão intensa e dolorosa. Mas D'us fez com que os judeus encontrassem graça aos olhos dos egípcios e eles deram seus objetos preciosos de boa vontade aos judeus, apesar de logicamente não terem vontade de fazer isso, demonstrando que D'us tem controle até mesmo sobre as emoções das pessoas.
Na abertura do mar novamente o poder de D'us foi ressaltado aos olhos dos egípcios, para ser divulgado para todas as nações do mundo, em todas as gerações. A água, que deveria fluir, se abriu e formou duas muralhas firmes, permitindo aos judeus atravessarem em terra firme, e voltou ao seu estado natural no momento em que os egípcios foram atravessar o mar. As rodas das poderosas carruagens de guerra dos egípcios foram derretidas, mas o mesmo fogo que derreteu as rodas não consumiu as outras partes das carruagens, demonstrando que na realidade não é por causa das forças da natureza que o fogo queima, e sim por esta ser a vontade de D'us.
O Faraó poderia ter recebido sua resposta de maneira menos dolorosa. Como Avraham Avinu, ele poderia ter aprendido sobre o poder e o controle de D'us simplesmente observando a perfeição de tudo o que Ele criou. De acordo com o livro “Chovót HaLevavót” (Os deveres do coração), a melhor maneira de desenvolver a nossa Emuná (fé) é observando e refletindo sobre a perfeição das criações de D'us. É isto o que o Faraó deveria ter feito, e assim poderia ter entendido quem é D'us e até onde chega a Sua força.
Mas a lição não fica apenas para o Faraó, é uma lição eterna, para cada um de nós. Há momentos em nossas vidas em que nossas esperanças são despedaçadas, e tudo em que estávamos apostando parece de repente se perder. Nesses momentos podemos facilmente cair em desespero e nos sentir abandonados. Mas não devemos desistir. Devemos, em vez disso, dizer: “D'us, eu não entendo, mas sei que tudo na minha vida está em Suas mãos. Vou tentar o meu melhor para ter sucesso, mesmo nestas condições difíceis nas quais Você me colocou, pois Você sabe o que é melhor para mim”. Se conseguirmos agir desta maneira, desenvolveremos nossa Emuná e abriremos as portas para recebermos Brachót que nunca chegariam até nós de outra forma. Pois o mesmo D'us que fez cada uma das dez pragas milagrosas, com Supervisão Particular e detalhada, atingindo os egípcios e poupando os judeus, é o D'us que cuida de nossas vidas.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm