No livro Orchot Tsadikim, constam as seguintes palavras: “O cruel é muito afastado das boas qualidades, pois não terá misericórdia dos pobres, não empresta dinheiro à eles em momento de aperto, e não lhes dará nada.
Será que devemos ser misericordiosos somente com os seres humanos ou também com os animais?
Está escrito em Mishlei (12:10) ” O justo reconhece a alma de seu animal”, que não deve incomodá-lo mais do que o necessário, e não deve deixá-lo faminto. No Talmud (Baba Metzia 32b), consta que há divergência entre os sábios, se causar sofrimento à um animal é uma proibição da Torá ou proibição de chachamim, de qualquer modo, não deixa de ser uma proibição.
Baseando nas palavras citadas acima, podemos entender uma porção da nossa parashá.
Na Torá (Devarim 13:13-19), consta o caso de que os habitantes de uma cidade foram influenciados para que façam idolatria. Caso este assunto seja averiguado pelo pelo beit din e averiguado como verdadeiro, a Torá exige que tanto as pessoas quanto todos os pertences desta cidade sejam queimados. Na verdade, esta sentença é difícil de ser entendida, pois este é em episódio no qual a Torá impõe a pena de morte para um crime coletivo religioso. Estes casos podem ser mal vistos por aqueles que não suportam a teocracia, “o regime dos aiatolás judaicos”.
Este caso deve ser averiguado minuciosamente, para que tenhamos a verdadeira visão e a verdadeira perspectiva dos ensinamentos que a Torá nos transmite.
Na verdade, esta é uma cidade que se desviou da ética judaica da forma mais extrema. A gravidade do pecado da idolatria não reside apenas perturbar as mentes daqueles que põem suas fés em seus deuses crença de madeira e pedra, prata ou ouro. A gravidade do pecado decorre das consequências devastadoras da perturbação das mentes, levando as pessoas à admiração dos elementos selvagens, a tal ponto que a crueldade pode afetar a relação entre os seres humanos de modo particular e entre as nações de modo coletivo, com legitimidade religiosa.
A pessoa que entende um pouco da história dos povos pagãos antigos e modernos (como o regime nazista), sabe que a crueldade foi a essência de vida dessas pessoas, fazendo com que esta filosofia de vida seja o motivo de sua própria derrota.
No Talmud (Baba Metsia 85a), consta o seguinte caso: os sofrimentos de Rabi Yehudá Hanassi, vieram por causa de um caso e saíram por causa de um caso.
Havia um carneiro que estava prestes à ser abatido. Repentinamente este carneiro fugiu para entre as pernas de Rabi Yehudá Hanassi e começou a chorar. Rabi Yehudá Hanassi lhe disse seja abatido, poi para este fim foste criado. Saiu um decreto celestial dizendo, que já que Rabi Yehudá Hanassi não teve misericórdia deste carneiro, ele deve receber sofrimentos. Os sofrimentos de Rabi Yehudá Hanassi duraram 13 anos. Até que em um certo dia, a empregada que limpava sua casa, encontrou vários ratos que fixaram suas residências na casa de Rabi Yehudá Hanassi.
A empregada juntou os ratos com intenção de jogá-los fora de casa. Rabi Yehudá Hanassi ao ver esta cena, disse para deixar os ratos em paz, pois devemos ter misericórdia de todas as criaturas. Naquele momento cessaram seus sofrimentos.
Pergunta o Rav Yitzchak Blazer (discípulo principal do Rav Yisroel Missalant), qual foi o pecado transgredido por
Rabi Yehudá Hanassi ao direcionar o carneiro ao abate? Ensina Rav Yitzchak Blazer, que do mesmo modo que a pessoa se comporta com seu próximo, assim D’us se comporta com ele. A pessoa que é misericórdia com as criaturas, D’us é misericordioso com ele.
Rabi Yehudá Hanassi, ao direcionar o carneiro para o abate, simplesmente lhe transmitiu que para este objetivo foi criado, e, portanto não há lugar para misericórdia neste caso. Caso D’us se comportasse conosco do modo “para isto foste criado”, o mundo não existiria, pois simplesmente as pessoas não aguentariam viver deste modo. Por isso que D’us foi bem rigoroso com Rabi, ao ver seu comportamento com o carneiro.
Até aqui foi abordado o quanto é mau o comportamento com crueldade e sem misericórdia, porém em caso que se trate de uma cidade totalmente idólatra, para que não haja má influència, como citado acima, a Torá ordenou exterminar todos os animais, pessoas e queimar os pertences. Sendo assim, já que isto é um preceito Divino, não deveria causar má influência àqueles que cuidam que esta sentença seja cumprida. Porém aprofundando nos versículos da Torá, perceberemos que a visão da Torá é um pouco diferente do que pensamos.
No versículo 18, consta o seguinte: ” E não haverá na tua mão nenhuma coisa do anátema, para que o Eterno Se aparte do furor de Sua ira, tenha piedade de ti, Se compadeça de ti e te multiplique como jurou a teus pais”.
O Or Hachaim, explica o seguinte: já que D’us ordenou que as pessoas e os habitantes desta cidade sejam exterminados, este ato pode criar uma natureza de violência e crueldade naqueles que cumprirão a sentença de matar os animais e as pessoas desta cidade. Portanto, D’us prometeu que terá piedade destas pessoas e compadecerá estas pessoas, a tal ponto que mesmo que estão terminando com a vida de outras pessoas, Hashem lhes multiplicará.
Rabi Chaim Shmulevitz Zts”l ensina, que as pessoas que cumprem o preceito de exterminar os habitantes e os animais desta cidade, mesmo que a princípio estão fazendo um ato cruel, de qualquer modo, por estarem cumprindo uma sentença Divina e para que não haja nenhum tipo de enfraquecimento na fé de Hashem sobre estas pessoas,elas recebem uma influência celestial para que a virtude de piedade e misericórdia afetada sobre este ato não seja diminuída em suas almas. Não só isso, já que estas pessoas continuarão sendo misericordiosas, D’us automáticamente terá misericórdia deles, como consta no Talmud (Shabat 151b), todo aquele que tiver misericórdia das criaturas, D’us terá misericórdia dele, e todo aquele que não tiver misericórdia das criaturas, D’us não terá misericórdia dele.
A princípio, poderíamos pensar que o comportamento Divino “e todo aquele que não tiver misericórdia das criaturas, D’us não terá misericórdia dele”, é um castigo por serem cruéis. Porém a aprendizagem do caso citado sobre a cidade idólatra,, nos ensina que as coisas não funcionam deste modo.
Os emissários do beit din que foram determinados para cumprir a função citada anteriormente, não deveriam receber nenhum castigo por terem feito o que lhes foi determinado a fazer, pois simplesmente eles cumpriram suas funções. E mesmo assim, D’us escreveu na Torá que estas pessoas receberão uma influência celestial para que a qualidade de piedade e misericórdia afetada sobre este ato não seja diminuída em suas almas. E não só isso, já que estas pessoas continuarão sendo misericordiosas, D’us automáticamente terá misericórdia deles.
Caso a falta de misericórdia Divina fosse um castigo pela falta de misericórdia das pessoas umas com as outras, já que os emissários do beit din simplesmente cumprem suas funções, D’us não teria prometido uma influência especial para eles, já que a misericórdia Divina não seria afetada.
Daqui aprendemos, que a falta de misericórdia Divina, é uma realidade e não um castigo por não ser misericordioso. Por isso que D’us lhes prometeu uma influência especial, para que esta qualidade não seja afetada.
Pequenas histórias sobre a misercórdia e a humildade de um dos líderes de nossa geração
Desde sua juventude, o renomado Rosh Yeshiva Rabi Gershon Edelstein Shlita, Rosh Yeshivá de Ponovitz, pôs ênfase no trabalho das virtudes. Sua vida, nas distintas etapas, estava cheia de configurações de piedade e misericórdia, cumprindo o escrito no livro Messilat Yesharim (capítulo 19): ” Em geral, compaixão e bondade devem ficar presos eternamente no coração dos devotos, e que seu objetivo seja sempre satisfazer as pessoas e não causar-lhes qualquer tristeza “.
Até vinte e cinco anos atrás Rabi Gershon voltava tarde para sua casa, após a tefilá matutina de Shabat. Ele dizia para sua esposa, que ficava fazendo algumas coisas alguns minutos após a tefilá. Certa vez, um de seus discípulos quis descobrir o verdadeiro significado deste atraso. Ele foi atrás de Rabi Gershon, e viu que ele entrava num certo edifício, subia alguns andares, ficava alguns minutos, e descia. A história se repetia várias e várias vezes. Uma curta pesquisa trouxe o seguinte resultado: Rabi Gershon visitava pessoas em más situações tanto pessoais quanto sentimentais, ele incentivava-as a ter um bom ânimo, ao desejar-lhes Shabat Shalom. Tudo isso, longe dos olhos das pessoas e sem nenhuma propaganda e fama.
Certo dia, um pessoa lhe fez uma pergunta delicada. Em uma das instituições de educação religiosa, uma professora foi demitida por falta de conformidade. Após a demissão de tal professora, a esposa desta pessoa que lhe fez a pergunta, foi convidada para substituir a demitida. “D'us me livre!”, disse Rabi Gershon!!! ” Você não aceitará este cargo para sua esposa, o sangue de uma alma judia está ainda borbulhando naquela classe!!!”. ” Mas a professora foi demitida sem qualquer ligação com minha esposa! Ela foi demitida antes de o trabalho ser oferecido a ela … “.” É verdade, porém você, como um estudioso e dedicado ao estudo da Torá, deve manter sua alma sensível e não pegar esta cargo para sua esposa, enquanto sangue está derramado lá!!!”
Um dos discípulos mais próximos de Rabi Gershon compartilhou uma história maravilhosa que ocorreu com Rabi Gershon: “Certos anos atrás, eu vim com ele a um casamento de órfão de pai e mãe. No mesmo complexo de salões, havia outro casamento que Rabi Gershon tomaria parte também. Sugeri ao Rabino, que em vez de sair pela entrada principal para entrar no salão do outro casamento também pela porta principal, que saísse pela saída de trás, e com isso, pouparia tempo. A princípio Rabi Gershon aceitou esta proposta, porém alguns minutos depois ele estava dançando com o noivo até a porta principal do salão, diferente do combinado antes. Rabi Gershon explicou, que este noivo é órfão dos dois lados, quero que ele sinta que vim a seu casamento, especificamente para ele, o que não sentiria caso saísse pela saída de trás. Porém outras pessoas que lhe fizeram a mesma pergunta, Rabi Gershon respondeu, escondendo sua incrível humildade, que porque sair e entrar “pela área de serviço”.
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