Shabat Shalom mail

O Rav Shlomo Kluger, que viveu há cerca de 150 anos, era um dos maiores rabinos de sua geração. Certa vez ele foi honrado com um convite para ser o Sandak (pessoa que segura o bebê) em um Brit-Milá, e chegou na casa da família exatamente no horário marcado. Normalmente é comum que haja certo atraso no início do Brit-Milá, algumas vezes porque o Mohel está vindo de outro Brit-Milá e se atrasa, outras vezes porque a mãe e o bebê ainda não estão prontos. Mas daquela vez o atraso estava exagerado e o Rav Kluger, cansado de esperar tanto, decidiu perguntar para um dos familiares o que estava acontecendo.

O familiar explicou, com muita tristeza, que em um dos quartos daquela casa estava o pai do bebê. Ele estava com uma doença gravíssima, em estágio terminal, e havia sido completamente desenganado pelos médicos. Naquela manhã ele havia acordado muito mal e já estava agonizando. Como o costume Ashkenazi é não dar o nome de um pai que está vivo para o seu filho, a família estava atrasando o começo do Brit-Milá para esperar o falecimento do rapaz e assim poder dar ao bebê o nome do pai.

Quando o Rav Shlomo Kluger escutou o comportamento estranho da família, ordenou ao Mohel que fizesse o Brit-Milá imediatamente. Após o Brit-Milá, o Rav Kluger entrou pessoalmente no quarto do doente para desejar-lhe “Mazal Tov” e, sob o olhar de dúvida de todos os presentes, explicou:

– Sei que vocês estão estranhando porque eu quis começar o Brit-Milá imediatamente. A verdade é que eu não tenho força para trazer o anjo da cura especificamente para curar este doente. Mas durante a cerimônia do Brit-Milá, D’us manda um anjo, que fica ao lado direito do Mohel, para curar o bebê. Então, no momento que o anjo já estava presente, eu rezei para D’us e pedi para que o anjo entrasse também neste quarto e curasse o doente.

Para a surpresa de todos, depois de três dias o pai do bebê estava saudável, caminhando com suas próprias pernas para a sinagoga.  Esta é a força de uma Tefilá (reza). (História Real)

 


 

Nesta semana lemos a Parashá Ki Tavô, que foca principalmente em dois assuntos: a Mitzvá de Bikurim, a oferenda das primícias da terra de Israel; e as Brachót (bençãos) e Klalót (maldições) que podem recair sobre o povo judeu, durante toda a história, de acordo com o nosso comportamento em relação ao cumprimento das leis da Torá. Quando o povo judeu anda nos caminhos da Torá, recebe muita Brachá e fartura. Já quando nos desviamos e abandonamos as Mitzvót, as várias Klalót descritas na Parashá recaem sobre nós, como um tapa de um pai que quer que seu filho rebelde volte aos caminhos corretos

A Mitzvá de Bikurim tinha como uma das principais funções ajudar as pessoas a desenvolver a característica de “Hakarat Hatóv” (reconhecer as bondades recebidas). Por isso, para cumprir a Mitzvá não era suficiente apenas levar as primícias das frutas como oferenda ao Cohen no Beit-Hamikdash (Templo Sagrado), era necessário pronunciar uma declaração de agradecimento, que incluía as bondades de D’us desde a época em que éramos escravos no Egito e fomos salvos, com mão forte e braço estendido, como está escrito: “Os egípcios nos maltrataram e nos afligiram, e colocaram um trabalho duro sobre nós. Então nós gritamos para Hashem, D’us dos nossos antepassados, e D’us escutou nossa voz e viu a nossa aflição, nosso sofrimento e nossa opressão” (Devarim 26:5).

Desta declaração ficam duas perguntas: por que está escrito “gritaram” para D’us e não “rezaram”, já que certamente esta é a verdadeira intenção do termo “gritaram para D’us”? E, além disso, aparentemente a voz dos judeus foi escutada imediatamente após o pedido. Mas vemos, no nosso dia-a-dia, que nem sempre nossas rezas são atendidas imediatamente. Por que neste caso foi diferente e eles foram escutados imediatamente?

Para responder a estas perguntas precisamos voltar ao livro de Shemot, que nos detalha como foi a época de escravidão do povo judeu no Egito, para entender historicamente o que estava acontecendo neste momento. Os judeus estavam sob um intenso jugo egípcio, com sofrimentos inimagináveis. Castigos físicos, humilhações diárias, bebês sendo atirados vivos no Rio Nilo ou sendo utilizados como tijolos nas construções. Então a Torá diz que houve uma troca de governante, como está escrito: “E eis que, durante estes muitos dias, morreu o rei do Egito, e suspiraram os Filhos de Israel por causa do trabalho. Então eles gritaram por causa do trabalho, e subiram seus prantos para D’us. E D’us escutou suas lamúrias…” (Shemot 2:23,24). A Torá nos revela, portanto, que este grito descrito na declaração dos Bikurim ocorreu justamente após a troca entre dois faraós. Por que?

Explica o Rabino Israel Meir HaCohen, mais conhecido como Chafetz Chaim, que na verdade existem dois tipos de reza: a Tefilá normal e a Tzaaká (grito). O versículo que contém a declaração dos Bikurim nos ensina que os judeus não apenas rezaram para D’us, e sim gritaram para Ele com todas as suas forças. Por que justamente depois da morte do Faraó? Pois os judeus acreditavam que todos os seus sofrimentos eram consequência da maldade do coração Faraó e tinham certeza de que as dificuldades acabariam após a sua morte. Mas o Faraó morreu e novo rei do Egito que assumiu se mostrou tão sanguinário e violento quanto seu antecessor, jogando um verdadeiro balde de água fria na cabeça dos judeus. Eles entenderam que não podiam se apoiar na salvação através de motivos “naturais”, e então gritaram para D’us, colocando toda a sua Emuná (fé) em Sua salvação.

Explica ainda o Chafetz Chaim que todas as nossas Tefilót são escutadas por D’us, mas muitas são respondidas depois de dias, meses ou até mesmo anos. Já as Tzaakót são respondidas imediatamente. Foi por isso que os judeus, no momento em que gritaram para D’us, foram escutados. E é por isso que, diante de dificuldades e sofrimentos, devemos direcionar nossos corações diretamente para D’us e gritar por Sua ajuda, sem esperar a salvação de nenhum outro lugar.

 O Chafetz Chaim nos ensina outras “dicas” espirituais para que as nossas Tefilót sejam aceitas e respondidas rapidamente por D’us. Por exemplo, sempre que queremos pedir algo para nós mesmos ou para outros, não devemos pedir para uma pessoa de forma isolada e sim incluir o pedido dentre todos os necessitados do povo judeu. Por exemplo, sempre que rezamos pela cura de alguém devemos mencionar “Que D’us mande a cura para esta pessoa dentre todos os doentes do povo judeu”. Também quando consolamos um enlutado dizemos “Que D’us possa trazer consolo para você junto com todos os enlutados de Tzion e Yerushalaim”. Por que? Pois os méritos do povo são maiores do que o mérito individual de cada um. Além disso, ao vencermos o nosso egoísmo e nos preocuparmos com as outras pessoas necessitadas do povo, despertamos a misericórdia de D’us.

Outra “dica” é sempre fazer pedidos depois de ter cumprido uma Mitzvá. É muito comum que as mulheres façam pedidos pelos filhos logo após o acendimento das velas de Shabat. Além disso, logo depois do Birkat Hamazon (reza que fazemos após comer pão) costumamos rezar um trecho chamado “Harachamam”, no qual pedimos Brachá para nossa casa e para nossa família. Nossos sábios tiveram o cuidado de inserir esta Brachá apenas depois de cumprimos a Mitzvá de rezar o Birkat Hamazon, para que nossos pedidos tenham mais efeito.

Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico, está se aproximando. Completamente diferente do “Reveillon”, Rosh Hashaná é um dia de introspecção, no qual nos questionamos sobre nossa conexão com D’us e nossa conduta em relação ao cumprimento das Mitzvót, e fazemos planos para o próximo ano. Em Rosh Hashaná tudo é decidido. Quem vai viver e quem vai deixar este mundo. Quem terá saúde e quem ficará doente. Quem terá tranqüilidade e quem terá problemas. Quem terá um bom sustento e quem terá dificuldades. Quem será honrado e quem será envergonhado. Toda a humanidade passa diante de D’us, como um rebanho de ovelhas, e todos os nossos atos são julgados. Como fazer para meritar e sair vitorioso neste julgamento? Ensinam os nossos sábios: “3 coisas podem mudar um mau decreto: Teshuvá (arrependimento sincero pelos nossos erros e o comprometimento de não voltar a errar), Tefilá e Tzedaká (caridade)”. É nossa vida e a vida de nossas famílias que está em jogo em Rosh Hashaná e, portanto, devemos gritar para D’us e pedir para que Ele nos mande um ano bom, cheio de Brachót.

Mais uma vez o anti-semitismo aflora pelo mundo. Invasões e ataques nos consulados de Israel em diversos países árabes. A mídia novamente atacando Israel de forma vergonhosa. Nas “cartas do leitor” dos jornais, uma enxurrada de comentários anti-semitas de pessoas que não tem nenhuma vergonha ou medo de expressar seu ódio pelo povo judeu. E o que nós fazemos? Esperamos o apoio dos EUA, nosso maior aliado político. Mas certamente não é de lá que vem a salvação. A situação geopolítica muda de maneira muito rápida. Aliados viram as costas em pouco tempo. Não temos que nos apoiar em pessoas ou governos aliados. Temos que nos apoiar em D’us, gritar para que Ele nos salve e nos dê tranqüilidade. Para que terminem as desgraças que vêm assolando o mundo. Para que não escutemos mais notícias de mortes precoces e doenças. É Nele que devemos confiar, e para Ele devemos voltar nossos olhos. Pois somente quando fizermos a nossa Tzaaká, direcionando toda a nossa força e a nossa Emuná para D’us, é que veremos nossos pedidos sendo imediatamente escutados.  

 

“SHETICATEV VETECHATEM BESSEFER CHAIM TOVIM” (QUE SEJAMOS INSCRITOS E SELADOS NO LIVRO DA VIDA).

 

SHABAT SHALOM

 

R’ Efraim Birbojm

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